São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Retorno ao tonalismo não livra a sinfonia de Ladermann do mal-estar

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que uma platéia espera da estréia de uma música contemporânea? Pode vir qualquer coisa. Geralmente, é uma cacofonia danada.
Quando se fala em música contemporânea, em geral músicos e público põem um pé atrás.
No começo deste século, alguns compositores como Schoenberg e Webern acharam que o sistema tonal estava esgotado, e a partir da ruptura com o tonalismo fizeram-se inúmeras experiências, como dodecafonismo, politonalidade, expressionismo, música aleatória, microtonalismo etc.
Mas a música ``de vanguarda" parece estar desaparecendo e, a partir do minimalismo da década de 80, assistimos a uma volta definitiva da música tonal.
Os compositores do século 20 que serão lembrados são os que não romperam com o tonalismo (Bartók, Villa-Lobos etc.).
``Após tantas experiências, a tendência deste final de século é o retorno ao tonalismo", diz o compositor americano Ezra Ladermann, 70, reitor da Universidade de Yale (EUA), e cuja ``Sinfonia nº 7", de 1989, estreou em São Paulo, segunda-feira passada, no Memorial da América Latina.
A música de Ladermann provém de uma corrente de compositores contemporâneos (Schnnitke, von Einem, Maxwell Davis, William Bolkan e outros) cuja tendência é a de um retorno à tonalidade.
É o que sentimos em sua sinfonia, que se destaca pela extrema originalidade no uso dos naipes da orquestra e efeitos sonoros surpreendentes.
Mas apesar de ter momentos profundamente melódicos, quase românticos, a sinfonia de Laderman, assim como toda a música do século 20, causa certo mal-estar. Sucessões de acordes dissonantes, clima tenso nas cordas, lamentos nos sopros, explosões na percussão criam um clima de angústia e ansiedade.
Por que tanta angústia? A música do século 18 (Mozart, Haydn) é plácida e sublime. Eles também passaram por guerras e dificuldades. A resposta não é por aí.
Também foi executada a ``Fantasia do Ar" (1994) de Omar Fontana. Muito melódica, é na realidade uma obra neo-romântica.
Enfim, a pianista Sônia Muniz interpretou o colossal ``Concerto para Piano e Orquestra em dó menor, op. 18" de Rachmaninoff. Ao contrário da escola soviética de interpretação (mecânica e pesada), Sônia Muniz imprimiu-lhe um caráter mais ágil, sutil e delicado.
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a batuta de aço do maestro Eleazar de Carvalho, não ousou desafinar.

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