São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Debate aponta rumos para TV pública

DA REPORTAGEM LOCAL

A TV pública no Brasil deve se tornar um instrumento de defesa da cidadania, com funcionamento garantido por recursos públicos e privados. Além disso, manter um padrão de qualidade técnica equivalente ao das grandes redes.
Esta foi uma das conclusões do debate ``O Futuro da TV Pública no Brasil", promovido na noite de anteontem pela Folha, com a participação de Jorge Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta, que controla a TV Cultura, Roberto Muylaert, ex-presidente da instituição, e do deputado estadual Cesar Callegari (PMDB).
As TVs públicas, como a Cultura, são financiadas em grande parte por recursos do Estado e mantêm uma programação de caráter educativo e informativo.
``A TV pública precisa ter um conceito próprio: saber qual a informação que interessa ao cidadão", disse Cunha Lima. As TVs comerciais estariam presas a interesses ideológicos ou de mercado.
As TVs públicas, afirmou, devem ter um papel que vá além do educativo: ``Re-humanização, conquista da cidadania e releitura da história oficial falsificada".
Cesar Callegari também insistiu no caráter de cidadania da TV pública. E, para assegurar essa característica, propôs a criação de controles sociais sobre a programação.
``Ela deve ser mais pública e menos estatal. Por isso, é preciso saber qual o poder que o público deve ter nessa TV. O controle social sobre as decisões ainda é pequeno", afirmou.
Para o deputado, tal controle poderia se iniciar com a participação de entidades representativas da sociedade civil, como Ordem dos Advogados do Brasil e Associação Brasileira de Imprensa.
``Precisamos da instabilidade do contraditório de idéias, não a instabilidade das falsas crises criadas pelos contadores de plantão no governo", afirmou o deputado, numa referência ao corte de verbas feito pelo governador Mario Covas no orçamento da TV Cultura.
Muylaert disse que a TV Cultura, que presidiu por oito anos, demonstrou capacidade de atrair patrocinadores, embora enfrentasse restrições legais para isso.
``Faturamos R$ 5 milhões no ano passado, foram conseguidos 250 apoios culturais. Quem já vendeu alguma coisa, sabe o que significa esse número."
Muylaert criticou editorial publicado pela Folha no último domingo, que afirmava haver indicações da existência de problemas, na TV Cultura, semelhantes aos das estatais.
``É uma irresponsabilidade. Na Cultura, gastamos R$ 50 milhões para atingir 10 milhões de espectadores, R$ 5 por espectador. A Globo, exemplo de eficiência, gasta R$ 6 reais por espectador. Esse é um dado definitivo para quando a Folha fizer outro editorial nos comparando com o Baneser ou outras estatais", disse.

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