São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chirac sofre críticas em sua estréia no G-7

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HALIFAX (CANADÁ)

O presidente francês, Jacques Chirac, estréia nas reuniões de cúpula do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, sob uma barragem de críticas de seus parceiros.
Motivo: Chirac anunciou na terça-feira a intenção da França de reiniciar os testes nucleares no atol de Mururoa, no Pacífico Sul. Serão oito testes, entre setembro deste ano e maio de 1996.
``Profundamente lamentável", reagiu o premiê japonês, Tomiichi Murayama, exatamente o primeiro dos governantes a chegar a Halifax (costa leste canadense) para a cúpula do G-7.
Um porta-voz de Murayama, Terusuke Terada, disse que o Ministério francês de Relações Exteriores comunicara ontem a decisão, por telefone, ao governo japonês e ouvira o mesmo tipo de comentário. ``É lamentável", repetiu Terada.
O governo canadense, anfitrião da reunião do G-7, foi na mesma direção: ``Os países que são potências nucleares têm que concordar em parar os testes o mais rápido possível", disparou seu chanceler, André Ouellet.
Japão e Canadá também concordam ao avaliar as possíveis consequências da decisão de Chirac de retomar os testes após três anos de paralisação.
``Vai provocar profunda desconfiança nos países que não têm armas nucleares", disse o porta-voz Terada aos jornalistas.
``Vai encorajar outros países a retomar os testes e os que não têm armas nucleares, a adquirir armamentos", reforçou o chanceler Ouellet.
Na Europa, a reação foi mais comedida. Porta-vozes dos governos italiano e britânico preferiram lembrar que a França continua apoiando a proposta de banir totalmente os testes, que deve vigorar a partir de 1996.
Mas, nos EUA, a iniciativa francesa foi encarada como um retrocesso em relação a todos os avanços obtidos até agora no campo da contenção do uso de armas nucleares.
Mais próximos do local dos testes, os neozelandeses reagiram com a maior cota de indignação.
``É arrogância de uma potência colonial européia", disse Jim Bolger, o primeiro-ministro da Nova Zelândia.
O grupo pacifista e ambientalista Greenpeace preferiu ir das palavras (obviamente de condenação) aos fatos. Despachou a Mururoa seu navio-símbolo, o ``Rainbow Warrior" (Guerreiro do Arco-Íris), para tentar impedir os testes.
A primeira versão do ``Rainbow Warrior" ficou destruída em explosão que, como se descobriu depois, foi armada pelo serviço secreto francês, há 10 anos.
A reação francesa foi tipicamente gaullista, o movimento herdeiro do general Charles de Gaulle, herói da resistência antinazista e depois presidente da França.
Chirac é o líder do RPR (Reunião pela República, o partido gaullista). ``Não devemos nos impressionar com conselhos e exortações de países que fizeram dez vezes mais testes e cujo arsenal nuclear excede largamente o da França", disse o premiê Alain Juppé.
O caso dos testes nucleares só contribuiu para turvar ainda mais o ambiente para a cúpula do G-7.
Em tese destinada a discutir cooperação econômica e a reforma das instituições internacionais, a reunião vai acabar atropelada por crises políticas.
Uma é entre Japão e Estados Unidos em torno do comércio. A outra é a questão da Bósnia, sobre a qual os países do G-7 não conseguem se entender.
O presidente francês chega hoje a Halifax, bem como seus interlocutores, exceto Murayama, do Japão, e o anfitrião, o premiê canadense, Jean Chrétien, que estão na cidade desde ontem.

Texto Anterior: Salinas sofre investigação por homicídio
Próximo Texto: 'Cúpula do Povo' ataca instituições
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.