São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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O império declina (e contra-ataca)

CLÓVIS ROSSI

HALIFAX, CANADÁ - É raro acontecer com presidentes, mas o norte-americano Bill Clinton pôs o dedo na ferida no discurso com que anunciou anteontem à noite o seu pacote para zerar o déficit orçamentário dentro de dez anos.
``Não quero que a geração de minha filha seja a primeira geração de americanos a estar pior do que a de seus pais", disse Clinton.
É exatamente o que vai acontecer se os EUA continuarem a viver como nos últimos muitos anos, gastando muito acima do que têm. Só de 1982 para cá, os Estados Unidos acumularam um déficit orçamentário de US$ 1,260 trilhão, quase três vezes a soma de todas as riquezas que o Brasil produz em um ano (o PIB).
Na teoria deveria acontecer com os EUA o que acontece com qualquer indivíduo ou país que gasta além da conta: quebra. Ocorre que os Estados Unidos têm o monopólio da impressão daquelas notinhas de cor verde, que funcionam como moeda de reserva e que todo o mundo quer ter.
Os Estados Unidos podem imprimir o quanto necessitam para financiar seu déficit, enquanto houver bancos centrais estrangeiros, instituições financeiras, empresas e até pessoas dispostas a ter e a investir em dólares.
Pois é essa festa que está acabando. Nos últimos dez anos, caiu de 70% para 60% a porcentagem de reservas de todos os bancos centrais do mundo mantidas em dólar.
``Não vai demorar mais dez anos para essa porcentagem cair a menos de 50%", prevê Yoh Kurosawa, do Banco Industrial do Japão.
Mais: a porcentagem do PIB americano em comparação com o PIB de seus parceiros do mundo rico, o G-7, vem despencando. Era de 68,6% em 1950. Em janeiro de 1995, havia se reduzido a magros 38,2%.
Nessa batida, a filha de Clinton talvez ainda consiga viver melhor do que os seus pais, mas a sua geração, na média, fatalmente estará em pior situação. Resta ver, agora, se Clinton consegue fazer o que prometeu e, se o fizer, se o remédio não será amargo demais.

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