São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995 |
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Os juros no país das Alices A idéia de tabelar em 12% ao ano os juros seria apenas mais um episódio folclórico da política nacional, não estivesse em jogo nessa utopia o próprio sucesso do Real. Não se trata de ser a favor de juros altos. Mas, assim como ninguém em sã consciência é a favor da miséria, do desemprego, do atraso ou de outros tantos males, somente os desajuizados acreditam que é possível traduzir de modo direto e mecânico as leis econômicas em legislação econômica. Os juros são como qualquer outro preço da economia. Ou seja, são informação. Predeterminá-los é o mesmo que resfriar um termômetro para tentar curar a febre. É verdade que a responsabilidade pelos juros altos cabe em grande medida ao governo. Mais precisamente, ao governo endividado. Portanto, assim como ao doente se prescreve uma dieta saudável para recuperar as forças, também o governo deve submeter-se a uma dieta fiscal que enfim propicie uma oportuna redução dos juros. Cabe aos parlamentares tapar os ralos orçamentários, disciplinar o endividamento interno e externo, no mínimo flexibilizar os monopólios e promover a privatização de estatais. Em suma, encontrar formas definitivas para o saneamento das contas públicas. Desse modo, ou seja, aviando e colaborando com uma dieta fiscal saudável, poderão os parlamentares contribuir decisivamente para que o termômetro recue e o moral financeiro do governo se eleve. A garota Alice, nas célebres fantasias de Lewis Caroll, encontrava o mundo ao redor ora gigantesco, ora diminuto, lidando com personagens que variam entre o autoritário e o lunático. Mas são fábulas que afinal ensinam algo. Ensinam por exemplo que a realidade não é aquilo que desejamos, embora imaginemos sempre que desejos devam tornar-se realidade. O tabelamento dos juros em 12% ao ano tem o mesmo sabor de fábula. Espera-se entretanto dos parlamentares o bom senso de distinguir entre desejo e realidade em vez de legislarem para um país de Alices. Texto Anterior: Seriedade Próximo Texto: O império declina (e contra-ataca) Índice |
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