São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Para os EUA, controle cria 'círculo vicioso'

FERNANDO CANZIAN; JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Robert K. Morris é diretor de uma das mais antigas e poderosas associações de indústrias dos Estados Unidos, a National Association of Manufaturers.
A NAM existe há cem anos e reúne 13,5 mil companhias, responsáveis por 85% da produção industrial norte-americana.
Robert Morris discorda da decisão do governo brasileiro de impor cotas à importação de veículos e afirma que a proteção comercial produz ``um círculo vicioso" de não-desenvolvimento.
Segundo ele, o mercado norte-americano é um dos mais abertos do mundo. ``Basta ver que teremos um déficit comercial de US$ 160 bilhões este ano", diz.
Leia a seguir trechos da entrevista telefônica que Morris concedeu à Folha de Washington na semana passada:

Folha - Por um problema de desequilíbrio comercial, o governo brasileiro acaba de impor cotas às importações de automóveis. O que o sr. pensa desta medida?
Robert K. Morris - Como representante da indústria norte-americana, obviamente me coloco contra qualquer cota ou aumento de tarifas que possam impedir a entrada de nossos produtos em qualquer país.
Sem querer julgar o Brasil, não faz parte da nossa visão que medidas de restrição às importações sejam usadas para reverter problemas de déficits comerciais ou para proteger a indústria nacional.
Folha - Mas o próprio governo norte-americano estabelece cotas em algumas áreas, não é verdade?
Morris - Sim, mas as restrições contra importações estão caindo, não aumentando. Recentemente adotamos tarifas zero para aço e papel e abandonamos as cotas para diversos outros produtos, especialmente na área agrícola.
Folha - Qual o grau de abertura da economia dos EUA?
Morris - Basta dizer que vamos ter um déficit comercial de US$ 160 bilhões este ano. Na prática, nosso mercado é um dos mais abertos do mundo, com alíquotas de importação médias de 2,5% a 3%.
Folha - Em que áreas as alíquotas são maiores?
Morris - As maiores taxas estão nos produtos têxteis e em confecções, que variam de 10% a 15%. A mesma tarifa também é empregada para alguns produtos químicos e calçados.
Tratores também ainda têm uma tarifa altíssima, de 25%. Mas a alíquota para veículos é de 2,5% apenas. Quanto é a alíquota para carros no Brasil?
Folha - Subiu de 32% para 70% no final de março.
Morris - Isso é muito.
Folha - Mas os EUA querem impor cotas contra os japoneses neste exato momento.
Morris - Isso é diferente. Há uma guerra comercial contra os japoneses pelo simples fato de que eles não querem abrir o mercado deles enquanto o nosso é totalmente aberto.
No mundo em que vivemos, não é razoável que os japoneses entrem livremente no nosso mercado e que ao mesmo tempo nos impeça de entrar no deles.
Folha - Os países menos desenvolvidos não deveriam se resguardar um pouco mais contra as importações?
Morris - Usar a proteção é a saída errada para enfrentar um problema econômico, seja ele qual for. A competição é a maneira mais eficiente de forçar a indústria de qualquer país a reagir.
Claro que em qualquer situação onde você altera as condições sobre como as companhias trabalham, expondo-as à competição, há pessoas que reclamam.
Mas quando um país protege a sua indústria, ela acaba fabricando produtos cada vez menos competitivos no mercado internacional. Isto quer dizer também que esses produtos têm qualidade inferior, apesar de serem mais caros. É um círculo vicioso que mantém baixo todo o nível da economia.
Folha - E quanto às práticas ilegais de comércio?
Morris - É claro que nós podemos usar as proteções usuais permitidas pelo Gatt e pela OMC para práticas de dumping ou de subsídios. Nós temos mecanismos para auferir estas práticas ilegais e adotamos as restrições quando elas são comprovadas.
(FCz e JRC)

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