São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Desindexação segurou preços na Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

Um dos principais fatores que contribuiram para estabilizar a inflação argentina em patamares baixos (taxa média mensal de 1% ao longo dos últimos 12 meses) foi a total desindexação da economia. Esta medida foi feita através de lei.
Desde abril de 91, não pode existir na Argentina nenhum tipo de contrato com cláusula de indexação.
A desindexação, ao lado do congelamento do câmbio (um peso argentino vale um dólar) e a abertura da economia ao comércio exterior- a tarifa média é inferior a 10%-, são os pontos básicos do Plano Cavallo.
Isto quer dizer que salários, aluguéis, pensões, benefícios da Previdência Social, impostos, preços agrícolas e prestações de qualquer tipo de financiamento não podem ter qualquer tipo de indexação.
Nem mesmo aplicações financeiras têm indexação fixa como no caso da caderneta de poupança no Brasil. Aqui, as aplicações têm taxas de juros livres, de acordo com cada banco.
Indexação é o processo pelo qual obrigações monetárias têm seus valores corrigidos com base em índices oficiais do governo.
Segundo a Folha apurou no Ministério da Economia, nos encontros de Cavallo com a equipe do ministro da Fazenda brasileiro, Pedro Malan, ele sempre sugere que a desindexação é o que falta para o Plano Real.
A assessoria do ministro Cavallo avalia que o presidente Fernando Henrique Cardoso deverá desindexar integralmente a economia, a exceção do salário mínimo, ainda no primeiro semestre deste ano.
O presidente Carlos Menem chegou a comparar em 94 o salário mínimo argentino (US$ 200,00) com o brasileiro. Na prática, não existem regras formais de correção do mínimo, que não é seguido nem mesmo pelo próprio governo Menem.
Aposentados
Um dos setores mais afetados pela desindexação são os aposentados. Mais de 80% dos 3 milhões de pensionistas ganham menos de US$ 200 ao mês. Grande parte das aposentadorias está congelada desde abril de 91.
Além disto, existem funcionários públicos que também ganham menos de US$ 200,00.
O governo não intervém na fixação de salários do setor privado. Os sindicatos mais fortes, como metalúrgicos, conseguem obter mais vantagens.
Agora, com a recessão e o agravamento da questão social, os trabalhadores estão aceitando até mesmo redução salarial para conservar o emprego.

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