São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Fraudes provocam crise no sistema bancário do país

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ASSUNÇÃO

Em menos de 15 dias, o BCP (Banco Central do Paraguai) decretou intervenção em dois dos maiores bancos do país, acusados de operações fraudulentas, que deram prejuízo de milhões de dólares a investidores e clientes.
O genro do ex-presidente Andrés Rodríguez, Luiz Antônio Saccarello, foi preso no último dia 12, acusado de oito crimes contra a economia nacional. Ele é o principal acionista do Bancopar (Banco Comercial do Paraguai), que tem filial em São Paulo.
O Bancopar é o segundo maior banco privado do país. A outra instituição sob intervenção é o Banco General, o terceiro no ``ranking" do sistema bancário.
As fraudes descobertas pelo BCP foram pagamento de subornos para dirigentes de empresas públicas que faziam aplicações, formação de ``caixa 2", para sonegar impostos, e captação de poupança e investimentos sem registro do Banco Central.
As intervenções fizeram o BCP injetar recursos da ordem de US$ 162,5 milhões no mercado financeiro, para evitar o chamado ``efeito-dominó", com a falência de corretoras e financeiras.
Os US$ 162,5 milhões foram retirados pelo BCP dos depósitos compulsórios dos bancos. Eles representariam 40% de toda a moeda em circulação no país, de acordo com jornais paraguaios.
O diretor-geral de um banco brasileiro que opera em Assunção disse à Agência Folha que esse valor seria menor: representaria cerca de 20% do guarani (moeda local) em circulação.
A intervenção do BCP não impediu, porém, estragos no mercado, com o fechamento de financeiras. Em consequência, durante a semana houve protestos de aplicadores em frente ao Palácio da Justiça do Paraguai.
Paralelamente à intervenção, o Banco Central baixou medida visando evitar novos rombos. As financeiras cadastradas no sistema bancário do país tiveram uma redução de 20% para 15% nos seus depósitos compulsórios.
Mas no Paraguai existem muitas empresas que trabalham à margem do setor financeiro oficial, num sistema parecido com os agiotas no Brasil.
Quebradeira
O presidente da UIP (União Industrial do Paraguai), Arturo Jara Avelli, disse à Agência Folha, em entrevista no Palácio da Justiça, na última quarta-feira, que teme por uma ``quebradeira geral" no país provocada pela falta de crédito.
Avelli afirmou que o problema no setor financeiro do país foi gerado pela ``ciranda financeira", movida por aplicações com juros reais atraentes. Ele disse que há tempos já havia levado sua preocupação ao governo.
Golpe
O senador Carlos Alberto Gonzáles, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), de oposição ao governo do presidente Carlos Wasmosy, disse à Agência Folha estar preocupado com uma crise institucional, motivada pela crise financeira.
``A situação vivida pelo Paraguai pode servir de pretexto para os eternos salvadores da pátria, com suas propostas de golpes militares".

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