São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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O golpe do século

SÍLVIO LANCELLOTTI

Com a frieza que a distância propicia, mais um punhado de informações de bastidores, esta coluna hoje amplia a sua assertiva de dois domingos atrás: Diego Maradona pespegou mesmo, em Pelé, o golpe de marketing do século.
No dia 16 de maio último, enquanto a Pelé Sports afinava o negócio com o argentino, Maradona já engendrava, paralelamente, sua ida para o Boca Juniors.
Na realidade, em nenhum momento o ``Diez" platino pensou de fato em se transferir ao Brasil. Usou Pelé, o ``Dez" do universo, como alavanca para mover o próprio prestígio, detonado por anos de ingenuidades e de tolices.
O plano, convenhamos, brilhante, nasceu na mente aguçada de Guillermo Coppolla, de novo o manager de Maradona, que demitiu, faz dois meses, o sóbrio Júlio Franchi. Nasceu também da cabeça de Daniel Bolotnikott, o arisco advogado do ``Pibe de Oro".
No tal dia 16, em um programa da rádio La Red, de Buenos Aires, Maradona falou da sua paixão pelo Boca: diante de uma pergunta do âncora Fernando Niembro, até mesmo escalou o seu time ideal.
Pediu ainda a contratação do seu amicíssimo Cláudio Caniggia. Anunciou o sonho de jogar ao lado de um sobrinho, Dani, Sérgio Daniel Lopez, atualmente o craque do Argentinos Jrs., clube, aliás, no qual Maradona começou.
Horas depois, na manhã de 17, na sede do Banco Credicoop de Buenos Aires, o seu diretor Antonio Alegre, também presidente do Boca, se reuniu com o vice Carlos Heller para idealizar o projeto da recontratação de Dieguito. O anúncio supostamente oficial do acordo entre Maradona e a Pelé Sports só aconteceria no dia 20.
Então, Maradona foi a Viena para presenciar, no dia 24, a pugna entre Ajax e Milan, decisão da Copa dos Campeões. De Viena foi até Mônaco presenciar o GP de F-1. Lá, chegou a assumir: ``São de 80% as chances de que eu aceite a proposta de Pelé".
Só que, antes, no dia 23, Alegre e Heller já tinham apresentado, à diretoria do Boca, a idéia do retorno de Maradona à agremiação. Alegre pediu aos companheiros que se manifestassem contra ou a favor. A decisão foi unânime.
Por que Maradona manteve Pelé iludido através de duas longas semanas? Simples: durante esse tempo, o seu nome ressuscitou na mídia. Hoje, ele até pode brincar: ``Eu não preciso da camisa de Pelé". Quanto a mim, mero escriba, não entendo como o ``Dez" se deixou driblar pelo ``Diez".

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