São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Brasileira acusada de terror diz que o país não a defende

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ASSUNÇÃO

A brasileira Valdirene Vieira Ferguglia, 24, presa desde 29 de janeiro em Assunção (Paraguai), disse que o governo brasileiro não está fazendo nada para ajudá-la a provar que não é terrorista.
Ela e seis libaneses, um deles seu namorado, são acusados pela Justiça argentina de serem responsáveis por dois atentados em Buenos Aires.
No Paraguai, o grupo está preso, acusado de ter entrado ilegalmente no país e de tráfico de entorpecentes. Os sete negam todas as acusações.
O primeiro atentado atribuído ao grupo ocorreu em março de 1992. Uma explosão de bombas destruiu o prédio da Embaixada de Israel na Argentina, matando 30 pessoas e ferindo cerca de 300 outras.
O segundo atentado foi em julho de 1994, contra a sede da Amia (Associação Mutual Israelita-Argentina), causando a morte de 96 pessoas, entre elas várias crianças.
O serviço de informação da Argentina e o FBI (polícia federal norte-americana) afirmam que os libaneses e a brasileira seriam ligados ao Hizbollah (Partido de Deus), grupo guerrilheiro libanês de orientação iraniana.
Em entrevista concedida à Agência Folha na semana passada, de sua cela, na Delegacia de Mulheres (equivalente a um presídio feminino) de Assunção, Ferguglia afirmou que o governo brasileiro nem sequer contratou advogado para defendê-la.
Segundo ela, a única coisa que o Brasil fez desde janeiro foi mandar o cônsul-geral no Paraguai, Luiz Brun de Almeida e Souza, visitá-la quatro vezes na prisão e autorizar o envio de alimentos. ``Ajuda moral e alimentar não bastam", afirmou Ferguglia.
O cônsul-geral também acredita que Ferguglia não esteja envolvida nos dois atentados terroristas na Argentina.
``Ela pode ser, no máximo, uma `mula' (pessoa contratada) para o tráfico de drogas, nunca uma terrorista ligada a grupos extremistas", disse Souza.
A sorte dos sete está nas mãos da Justiça paraguaia. Ela e os seis libaneses devem ser extraditados para a Argentina -a extradição é um ato jurídico previsto internacionalmente para a entrega de criminosos.
O pedido de extradição foi aceito no dia 29 de maio último pelo juiz federal da 1ª Instância Criminal do Paraguai, José Emílio Yaluk.
Ela só não foi consumada porque os advogados dos presos entraram com liminar suspendendo a decisão de Yaluk.
O juiz paraguaio afirmou que a extradição deve acontecer até o final deste mês, quando a Câmara de Apelação do Paraguai se pronunciará sobre o caso.
Ferguglia acusou o juiz Yaluk de tentativa de extorsão para evitar a consumação da extradição. Ela disse que o juiz teria pedido US$ 250 mil para libertar os sete. O juiz nega a acusação.
Os libaneses presos são Luís Alberto Nader, Sérgio Roberto Salem, Johnny Moraes Baalbaky, Mohamed Assam Alayan, Fadi Abdul Karin Chekair e Roberto Ribeiro Ruiz. Salem, Nader e Baalbaky possuem cidadania brasileira.
Eles estão na Penitenciária de Tacumbu (10 km a leste de Assunção). Em uma carta enviada para a imprensa de Assunção, eles dizem que estavam no Paraguai como ``turistas" quando foram presos.
Na carta acusam o presidente argentino, Carlos Menem, de ter usado eleitoralmente o caso dos atentados e dizem ser ``vítimas da injustiça paraguaia".
Ferguglia também afirmou que Menem teria usado politicamente o caso para obter sua reeleição. ``O presidente argentino precisava se reeleger e conseguiu nos colocar como culpados nos atentados", disse.
Ferguglia e os seis libaneses foram presos em janeiro no bairro Trinidad (região noroeste de Assunção), em uma casa alugada por Johnny Moraes Baalbaky, namorado dela.
Na casa, os policiais paraguaios encontraram seis gramas de maconha, um revólver e uma pistola.
O Serviço de Inteligência da Polícia Nacional do Paraguai informou que os sete queimaram documentos que provariam sua participação nos atentados terroristas na Argentina.
Ferguglia nega. Ela disse que havia queimado fotos do seu ex-marido, porque o namorado seria muito ``ciumento".

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