São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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`Eu cometeria suicídio', afirma acusada

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ASSUNÇÃO

A brasileira Valdirene Vieira Ferguglia disse à Agência Folha que não suportará uma condenação por terrorismo, caso seja extraditada do Paraguai para a Argentina. "Eu irei me matar, afirmou.
Ela divide uma cela de seis metros quadrados com outras três detentas. Ferguglia deu entrevista para a Agência Folha em sua cela. Leia a seguir os principais trechos. (JM)
Agência Folha - Qual é o seu envolvimento com o grupo de libaneses?
Valdirene Vieira Ferguglia - Apenas afetivo. Namoro o Johnny há um ano. Nos conhecemos em Ciudad del Este (Paraguai), onde eu trabalhava como secretária. Os outros seis, conheço apenas como amigos do Johnny.
Agência Folha - O que você fazia em Assunção?
Valdirene - Estávamos de passagem. Iríamos embarcar no dia 3 de fevereiro para Madri (Espanha), eu e o Johhny.
Agência Folha - Ele é acusado de tráfico de drogas.
Valdirene - Ele faz contrabando de peças de informática, mas droga não. Muito menos essa coisa de terrorismo. Isso foi jogada do (Carlos) Menem para se reeleger. Ele prometeu pegar os culpados pelos atentados contra os judeus. Aí pegaram a gente.
Agência Folha - Você agora quer ser extraditada para a Argentina, por quê?
Valdirene - Porque cheguei ao meu limite. Não suporto mais ficar chorando o dia inteiro, sem receber visitas, sem ver minha filha, sem perspectivas.
Na Argentina, vou mostrar que nunca viajei além de Assunção, que nunca estive na Argentina, que sou inocente.
Agência Folha - Você já pensou no caso de uma possível condenação?
Valdirene - Já. E decidi que me mato. Não vou suportar ser usada politicamente por aquilo que não fiz. Me mato e deixo claro que fui vítima de Menem e do governo brasileiro, que não defendeu uma compatriota inocente.
Agência Folha - Você já tentou uma vez, não?
Valdirene - Foi há dois meses. Aqui dentro você aprende coisas que nem imagina. Tomei um monte de sedativos com refrigerante. Fui socorrida pelas colegas de cela e pela direção do presídio. Se for condenada, tento de novo e morro.

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