São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995 |
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Ricos temem desaquecimento econômico
CLÓVIS ROSSI
Essa interpretação, obtida pela Folha junto a delegados de dois países, se ampara na comparação entre o esboço do comunicado final da cúpula do G-7, encerrada ontem, e o documento de fato emitido. O esboço, fechado dia 27 de maio, dizia que, ``na maioria de nossos países, o crescimento econômico é robusto". O texto definitivo, emitido 21 dias depois, é bem menos otimista. Diz: ``Embora tenha havido algum desaquecimento, na maioria dos nossos países parecem estar dadas as condições para um crescimento continuado". Também as estatísticas sobre a economia de alguns dos sete, divulgadas ao longo da semana da cúpula, apontam na direção de um desaquecimento mais robusto. Nos Estados Unidos, a economia cresceu apenas 2,7% no primeiro trimestre de 1995, contra 5,1% nos últimos três meses de 1994. No Canadá, o primeiro trimestre marcou o pior desempenho em mais de dois anos, com crescimento de apenas 0,7% anualizado -contra 4,6% no último trimestre de 1994. No Japão, o ministro de Finanças, Masayoshi Takemura, diz que o sistema bancário vive sua pior crise desde a Grande Depressão. Pelos números oficiais, os créditos de difícil recuperação somam cerca de US$ 470 bilhões, ou 8,5% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas em um ano). Mas há estimavas privadas que elevam o número para perto de US$ 1 trilhão. Além de uma previsão mais assustada do que a princípio fariam, os líderes ainda tiveram que admitir os riscos para a expansão econômica decorrentes da especulação nos mercados. ``Desequilíbrios internos e externos e a flutuação nos mercados financeiro e cambial podem prejudicar a obtenção de crescimento sustentado, não-inflacionário, assim como a contínua expansão do comércio internacional", diz o comunicado. Menos diplomático, o presidente francês, Jacques Chirac, pôs o dedo na ferida, em pronunciamento na sexta-feira. Chamou a especulação de ``a Aids de nossas economias". Chirac disse ainda que tinha propostas concretas para combater a especulação, mas não quis adiantá-las. Preferiu reservar-se para a cúpula de 1996, que se realizará na própria França. Não bastasse a inquietação com a economia, os governantes do G-7 tiveram a sua agenda dominada por crises bélicas. Em jantar na sexta-feira, todos eles cobraram do presidente russo Boris Ieltsin uma solução pacífica para a crise na Tchetchênia. Em contrapartida, ele foi elogiado por seu papel na crise da Bósnia. Os russos são aliados históricos dos sérvios e a expectativa do G-7 é a de que, por isso, Ieltsin possa convencê-los a negociar um acordo. Texto Anterior: G-7 cobra solução política na Tchetchênia Próximo Texto: Divergências marcam reunião Índice |
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