São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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celebridade invisível

MARISA ADÁN GIL

Ronaldo era um rebelde. "O que me interessava era a revolução, estética, política, de costumes."
Em época de festivais e ditadura, música era a única resposta. Em 67, veio o encontro decisivo: Milton Nascimento seria, por muito tempo, o parceiro ideal. "Temos pouco contato hoje". A parceria mais recente foi no álbum "Txai", de 1990. "Não gosto dos últimos trabalhos".
No pós-Clube, parceiros se diversificaram. "Queria escrever canções para tocar no rádio". Os sucessos vieram: "Chuva de Prata", na voz de Gal Costa; "Um Certo Alguém", com Lulu Santos. "O maior elogio que já recebi foi do Gilberto Gil: me chamou de `hit-maker'."
Nos anos 80, perdeu o pique. Foi para Nova York, seguindo exemplo de Tom Jobim. "Todos os discos eram feitos por tecladistas. Não havia mais discos com história, com significado". Voltou em 89, para lançar "Cais". Era hora de começar tudo de novo.
Sabedoria
"Antonio Brasileiro", último álbum de Tom Jobim, traz uma versão em inglês para "O Trem Azul", de Lô Borges e Ronaldo Bastos.
"Ele trabalhava nessa versão há anos", conta. Vinte anos mais jovem que o maestro, Ronaldo fala dele com reverência. "Aprendi muitas coisas prosaicas com o Tom. Fazer barba, fritar ovo. Fora as grandes coisas que ele me deu, a pouca sabedoria que eu tenho".
De Caetano, outro mestre, ganhou o apelido que serve de nome à gravadora. "Eu disse pra ele que odiava Ronaldo Bastos. Então, ele pegou um apelido que o Beto Guedes tinha me dado, `Duba', e sugeriu um `s'."
Tal pai, tal filho. O selo Dubas, filhote dileto de Ronaldo, não pára de produzir. Depois de lançar discos de Carlos Fernando, Frank Solari e Celso Fonseca, a pequena gravadora prepara os CDs de Humberto F (ex-Picassos Falsos), Claudio Zoli e Jussara Silveira.
Lobby na CPI
Quando o assunto é direitos autorais, Ronaldo é um leão. Seus ataques dirigem-se principalmente à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga desde 27 de abril as irregularidades no Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) -empresa privada que recolhe e distribui o dinheiro dos direitos autorais no país.
"Tenho duas perguntas para fazer a esse respeito. Por que uma CPI do Ecad e não do direito autoral? Estão investigando um órgão que nem público é. Segunda pergunta: quantos deputados da CPI têm estações de rádio e TV?" Segundo dados colhidos pela Folha, nove (entre os 33 que integram a comissão).
Na opinião de Ronaldo, a investigação deveria se concentrar na arredação dos direitos em rádio e TV. Para o deputado Chico Vigilante (PT-DF), isso "implodiria a CPI".
"Há um lobby contra. Rádio e TV pagam direitos autorais no exterior. Aqui, quem paga é o pequeno usuário. É problema de lei", diz Ronaldo.
O compositor está indignado com a quebra do sigilo bancário de Lulu Santos, pedida pelo mesmo Vigilante (para apurar "contradições"). "Sou solidário ao Lulu", diz. "Ele está sendo ameaçado porque falou o que pensava. Isso é inadmissível".

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