São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Os anjos do Carlinhos

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando séries americanas são exibidas no Brasil, raramente o título local é tradução literal do inglês, como ``Os Intocáveis" (The Untouchables). Costuma-se ignorar o título original e adotar uma expressão brasileira com apelo junto ao público.
``Charlie's Angels" deveria ser, em tradução literal radical, ``Os Anjos do Carlinhos". Nananina: passou como ``As Panteras", substituição prudente e justificável. A expressão ``Os Anjos do Carlinhos" lembraria, por semelhança, ``as certinhas do Lalau", de Stanislaw Ponte Preta, ou ``as mulatas do Sargentelli" -e dificilmente o público a associaria às aventuras de três detetives finas e charmosas. Esperaríamos, ansiosos, por uma comédia escrachada sobre o teatro rebolado ianque.
O que pensariam os telespectadores se a Globo anunciasse a série ``Fazendo um Bico", com Bruce Willys e Cybill Shepherd? Na certa, imaginariam o ``duro de matar" e a loira estonteante cruzando a ponte da Amizade carregados de muamba, pintando camisetas em silk-screen ou vendendo refil de sabonete líquido no escritório. Sucede que o verbo inglês ``moonlight" significa ``exercer uma atividade profissional fora do emprego regular" -em suma, é o nosso deselegante ``fazer um bico". Por isso, preferiu-se trazer ``Moonlighting" ao Brasil como ``A Gata e o Rato".
``Primo Cruzado" foi lançado em março de 87, nos estertores do plano Cruzado. Tinha como personagens o americano Larry e seu hóspede, um primo brasileiro e caipira chamado Zeca Taylor. Na versão original, o tal primo chamava-se Balki Bartokomous e provinha da Ilha de Mypos -nomes gregos típicos. Quanto ao título original, naturalmente não era ``Cousin Crusader", nem ``Cousin Stabilization Plan of Arida & Resende", e tampouco ``Cousin it's got to work" (Primo tem que dar certo). Era ``Perfect Strangers" (Perfeitos Estranhos), pois, afinal, os primos nada tinham em comum. Coerentemente, menos ainda os títulos americano e brasileiro.

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