São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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EUA esperam que medida seja temporária

ANDREW GREENLEES
DO PAINEL

O governo norte-americano espera que o aumento de tarifas e a criação de cotas para a importação de veículos no Brasil sejam medidas temporárias. ``Ficamos preocupados quando vemos tarifas subirem em vez de caírem", disse ontem, em entrevista exclusiva à Folha, o subsecretário de Estado dos EUA para Assuntos Interamericanos, Alexander Watson.
Um dos principais responsáveis pela política dos EUA em relação às Américas, Watson veio ao Brasil para acompanhar a reunião de cúpula do Mercosul e para contatos com o governo brasileiro.
A seguir, trechos da entrevista:

Folha - Em que medida a integração entre Mercosul e Nafta é uma possibilidade?
Alexander Watson - Em dezembro passado, na Cúpula das Américas, em Miami, esse conceito foi confirmado pelos líderes presentes, inclusive dois do Brasil (Itamar Franco e FHC). A idéia é montar uma área de livre comércio nas Américas dentro de dez anos e isso é ambicioso, questões de comércio são sensíveis. E o processo não é de apenas integrar Nafta e Mercosul, há também o Pacto Andino, o Mercado Comum da América Central e países que não estão em nenhum desses organismos. O que é muito importante para nós é que todos devemos ter em mente que o objetivo maior é integrar todos. Para isso, é necessário evitar ações em nível regional que dificultem esse objetivo. A Organização dos Estados Americanos está fazendo algo inédito: analisa todos os 23 acordos e entendimentos de comércio que temos no hemisfério. Teremos um trabalho analítico para servir de base ao processo.
Folha - Falando em questões sensíveis, a reunião do Mercosul será marcada pelo choque entre Brasil e Argentina em torno das cotas para automóveis. Como o sr. analisa este problema?
Watson - Não cabe a nós, dos EUA, falar muito sobre isso, exceto para expressar nossa preocupação com qualquer medida que possa parecer um passo atrás na integração, em qualquer parte do hemisfério. Assim, ficamos preocupados quando vemos tarifas subirem em vez de caírem e não é só aqui. O Brasil já fez isso, Argentina, Costa Rica e México também. Nada disso é um terremoto a menos que indique uma tendência, um afastamento da idéia do livre comércio, mas acho que não é o caso. Os governos do Brasil, Argentina e México já disseram que são medidas temporárias para responder a situações específicas.
Folha - O sr. diz então que a restrição a importações precisa ser claramente temporária?
Watson - Quando olhamos para um mundo de livre comércio, política econômica interna é a coisa crucial. E é isso que o México está atravessando agora. No Brasil, pelo que eu soube, a economia já está desaquecendo e isto vai precisar acontecer para que não haja pressões inflacionárias. Isso pode esfriar também a demanda por importados e melhorar a balança de pagamentos. É pena ter que recorrer a aumentos de tarifas no curto prazo -e à mais drástica imposição de cotas. Seja lá como isso for feito, será por pouco tempo.
Folha - Em Miami, o livre comércio era tema central. Agora, Brasil e Argentina entram em crise sobre cotas. Isto não afeta a credibilidade do Mercosul?
Watson - É o tipo de coisa que se quer evitar, se possível. Se for feito, precisa ser por um prazo muito curto, de forma muito limitada e muito bem explicada. O que interessa é que coisas que aconteçam no Mercosul ou no Nafta ou no Pacto Andino não dificultem o objetivo maior do livre comércio.
Folha - Há temor na Argentina de que as cotas sejam ampliadas para outros produtos.
Watson - Tenho grande confiança no compromisso do presidente Cardoso com o comércio aberto. É claramente interessante ao Brasil -uma economia forte, crescentemente eficiente, produtiva e competitiva- ter o comércio o mais livre possível. Estou confiante de que o que está acontecendo agora é medida de prazo curto, para tratar de circunstâncias específicas, que atingiram o Brasil um pouco após a crise mexicana. Prefiro não especular sobre novas medidas, espero que não existam.
Folha - Vou insistir na questão da credibilidade do Mercosul. Não será mesmo afetada?
Watson - Nossa expectativa nos EUA e como membros do Nafta é que o Mercosul continue a ser um acordo de liberalização do comércio. Se isso não acontecer, ficaremos legitimamente preocupados. A expectativa é de que haja um entendimento entre Brasil e Argentina, mas é claro que, se isso não for possível, pode ter implicações sobre o futuro do Mercosul.

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