São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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NADANDO COM O INIMIGO

VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Mais de 110 horas embaixo da água, 204 "encontros com tubarões de 21 espécies. A viagem que levou o brasileiro Lawrence Wahba, 26, a mergulhar nos três oceanos (veja quadro abaixo) durante quatro meses foi mais do que uma grande aventura que muita gente chamaria de "maluquice.
Wahba partiu em busca dos grandes tubarões do planeta para documentar de perto o comportamento desses animais.
O resultado desse trabalho são filmes que chegam à televisão em breve.
"Quis mostrar que eles têm enorme importância para o ecossistema marinho e que estão integrados a seu meio, diz.
Uma das mais arriscadas etapas da viagem foi o encontro com o tubarão branco.
A espécie, que ganhou fama de "assassina desde o filme "Tubarão, de Steven Spielberg, em 1975, é chamada pelos australianos de "white death (morte branca).
"Mas os ataques não acontecem à toa. Como não têm mãos, eles exploram tudo com a boca, além de confundirem um mergulhador com leões marinhos, seu alimento, diz Wahba, que os filmou abrigado em uma gaiola.
Wahba foi o primeiro brasileiro a participar de uma expedição no Falie, barco que o ex-campeão de mergulho australiano Rodney Fox usa para expedições, para documentá-lo na Austrália.
Fox, 56, tinha 23 anos quando foi atacado pelo animal. Depois de ter levado mais de cem pontos, dirigindo as sequências submarinas do filme de Spielberg, hoje é um dos maiores defensores da espécie, ameaçada de extinção.
Mas nem todas as etapas da viagem poderiam ser chamadas de perigosas.
Prova disso é que em Cape Range (golfo de Exmouth, no oceano Índico), Wahba foi "salvo por um tubarão baleia.
"Mergulhei para vê-los, quando percebi que um `silver-tip' (tubarão ponta de prata) vinha do fundo em minha direção. Quando segurei a cauda de um tubarão baleia, o outro acabou se `assustando'. Acabei pegando carona com o baleia por quase dez minutos.
Espírito de tubarão
Em Kontu (Papua Nova Guiné), tubarões são mais do que um animais que impõem respeito. Diz a tradição que eles guardam o espírito dos ancestrais.
"Alguns homens da aldeia têm a função de `chamadores' de tubarão, diz Wahba.
Saem sozinhos, sem falar com ninguém, em uma pequena canoa para mar aberto. Lá, jogam um pedra para acordar o espírito do tubarão e mexem um chocalho que lembra o som de uma lagosta.
"Quando o tubarão se aproxima, o pegam pelo rabo e matam com um porrete. A carne é repartida por todos da tribo, que comem também os órgãos internos."

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