São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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'Querem julgar o regime', diz Pinochet

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O general e comandante-chefe do Exército do Chile, Augusto Pinochet, afirmou que alguns setores do país querem aproveitar a condenação de dois altos militares para julgar o regime militar liderado por ele entre 1973 e 1990.
Em entrevista publicada ontem pelo jornal "La Tercera", de Santiago (capital), Pinochet advertiu que a crise suscitada pela condenação à prisão do ex-chefe de sua polícia secreta "pode desembocar em situações muito graves e incontroláveis.
No final de maio, o general reformado Manuel Contreras e o brigadeiro Pedro Espinoza foram condenados pela Corte Suprema como autores intelectuais da morte em 1976 do socialista Orlando Letelier, então ex-chanceler.
O crime aconteceu em Washington (EUA), quando Contreras era chefe da Dina, a polícia secreta de Pinochet.
Contreras está internado em um hospital da Marinha em Talcahuano (500 km ao sul de Santiago), e deve cumprir uma pena de sete anos de prisão.
A operação que o transferiu para o hospital naval foi ordenada por Pinochet. Duas tentativas de prender o general fracassaram porque os médicos afirmam que ele está em estado grave.
O juiz Adolfo Bañados quer agora a realização de novos exames para verificar o estado de saúde de Contreras.
Os advogados de Espinoza, refugiado num quartel em Santiago, dizem que ele também pode ser internado por problemas de saúde.
Pinochet nega que o Exército tivesse retido Contreras em Talcahuano. "Ninguém o reteve. Ele está doente", afirmou.
Pinochet reiterou que considera "injusto" o resultado do processo. "No fundo, o que querem é julgar o governo militar."
Em suas declarações, Pinochet defende uma correta aplicação da Lei de Anistia, promulgada por ele em 1978.
Segundo o general, "os países que pensam buscam a paz com o esquecimento. Ele afirmou que os militares querem reconciliação.
"Mas há pessoas que pretendem ignorar a Lei de Anistia, que só queremos que seja bem cumprida", acrescentou.
Na opinião do ex-governante, o suposto aproveitamento do caso Letelier para julgar o regime que liderou provém de setores marxistas que pretendem se vingar dele.
"O comunismo é como uma religião. Enquanto não me virem morto não estarão contentes."
Pinochet disse que o Exército "aceita" a condenação dos dois militares e que a sentença deve ser levada a cabo, afirmando que Contreras e Espinoza devem cumprir suas penas em condições "dignas, de acordo com suas condições de oficiais.
Sobre o julgamento, Pinochet disse que os acusados "foram privados dos direitos essenciais" de que gozavam enquanto a causa esteve com a Justiça Militar.
"Sempre acreditei neles", disse Pinochet.

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