São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Só o mínimo

O combate à inflação é a maneira mais eficiente de proteger o poder de compra dos salários. E a desindexação da economia é necessária para que se possa alcançar uma estabilização duradoura.
É correto, entretanto, manter uma garantia para o salário mínimo, que visa a assegurar a subsistência dos trabalhadores mais pobres -ou impedir um nível ainda maior de miséria. Mas reinstituir o reajuste automático para outras faixas salariais equivale a manter a indexação da economia. Isso poria sob grave risco justamente uma das conquistas mais valiosas para os assalariados: a inflação mais baixa.
Quando toda a sociedade tenta imunizar-se contra a elevação de preços com a reposição automática dos índices passados, o resultado é que a inflação se acelera e a grande maioria da população perde. A idéia de que é possível proteger todos os setores ao mesmo tempo não passa portanto de uma perversa ilusão. Sob a suposta intenção de defender parcelas mais largas de trabalhadores, termina-se por prejudicar a quase todos.
Assim, pode parecer paradoxal, mas na realidade qualquer tipo de proteção só pode ser efetiva se ela for uma exceção. Somente em um cenário geral de estabilidade e com uma economia desindexada é que a correção do salário mínimo pode de fato proteger seu poder de compra. Se a inflação sair de controle, pouco adianta a vigência de mecanismos de correção salarial. O preços correm sempre na frente.
O programa de estabilização encontra-se hoje em um momento particularmente delicado. Trata-se de apostar de modo firme na consolidação da estabilidade ou começar a ceder às pressões de todo tipo que contribuíram para o fracasso de tantos outros planos econômicos no passado recente.
Os índices de inflação muito mais baixos registrados desde a implantação do real deveram-se em grande parte a instrumentos cujo uso é limitado. Os juros altíssimos, por exemplo, que servem para conter o crescimento da economia e atrair capitais financeiros, não podem ser mantidos por muito tempo. Tampouco o déficit comercial pode ser sustentado indefinidamente, ainda mais no mundo pós-crise do México. A ampla desindexação da economia é portanto fundamental para a continuidade do plano de estabilização.

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