São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Indústria argentina diz que perde US$ 1 bi

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria argentina quer compensar os déficits comerciais que tem com o Brasil antes de aceitar a imposição de cotas para seus automóveis no mercado brasileiro.
A União Industrial Argentina (UIA, equivalente à Fiesp brasileira) estima que o sistema de cotas para automóveis do Brasil pode causar perda de negócios (exportações para o Brasil) de até US$ 1 bilhão para a indústria automobilística argentina.
Em entrevista à Folha, o presidente da UIA, Jorge Blanco-Villegas, disse que Brasil e Argentina ``só podem discutir cotas depois que for compensado um déficit de quase US$ 2 bilhões que a indústria automobilística argentina tem em relação ao Brasil".
Blanco-Villegas disse que a``indústria brasileira vinha utilizando (exportando para) o mercado argentino nos dois últimos anos para resolver seus problemas. Poderemos falar sobre o tema (cotas) somente depois que conseguirmos compensar o déficit comercial causado pelo Brasil neste período".
A Argentina esperava cobrir este ano grande parte deste déficit. Entre janeiro e abril, por exemplo, a Argentina teve superávit de quase US$ 500 milhões em relação ao Brasil. Só a GM da Argentina esperava exportar para o Brasil 75% de sua produção de caminhonetes (de 20.000 veículos/ano) em 1995.
Questionado, o presidente da UIA não quis explicitar se o governo argentino usará o déficit de US$ 2 bilhões da Argentina com o Brasil como arma nas negociações entre os dois países.
Ele disse apenas que as decisões em relação ao Mercosul devem ser consensuais e ``ter prazo" para serem implementadas.
Presente ao mesmo evento queBlanco-Villegas -a cúpula econômica do Mercosul-, o diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Boris Tabacof, defendeu o uso de tarifas elevadas e cotas -e não apenas no setor automobilístico- ``para dar tempo e espaço para a indústria nacional".
``Viabilizar o Mercosul às custas de eliminar as condições competitivas do Brasil não tem sentido", diz Tabacof.
Segundo ele, com as cotas e novas regras ``o Brasil está criando uma política industrial para o país" que deve atrair novos investimentos.
Nesta direção, o diretor da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, disse ontem que a adoção decotas e de estímulos à produção ``trazem grandes incentivos para novos investimentos no Brasil. Nós pleiteávamos há anos a adoção de um programa como este", disse.
Pinheiro Neto afirmou, no entanto, que não haverá mudança nos planos já anunciados da General Motors, de investir US$ 2 bilhões no Brasil e US$ 1 bilhão na Argentina até 1998.

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