São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Espanhol pode ser obrigatório em SP

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Paulo Maluf tem 15 dias, a contar desta semana, para decidir se aceita um projeto de lei que torna o ensino de espanhol obrigatório na rede pública de ensino de São Paulo.
O projeto, aprovado na quarta-feira passada pela Câmara, é de autoria da vereadora Lidia Corrêa (PMDB), militante do MR-8 -grupo político que participou da luta armada contra o regime militar nos anos 70 e que hoje apoia o ex-governador Orestes Quércia.
A lei é polêmica em diversos pontos. A principal entidade de profissionais da área (Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo) reclama que não foi consultada a respeito.
``É importante, sem dúvida, que o aluno tenha acesso ao conhecimento do espanhol. Só que deve haver alguns cuidados. Não sei como será regulamentada a lei", diz a presidente da associação, Isabel Gretel Fernandez, 36.
``Não queremos que ocorra com o espanhol o mesmo que aconteceu com o ensino de inglês."
A rede municipal tem hoje 835 professores de inglês -mais ou menos o número de professores de espanhol que serão necessários se a obrigatoriedade for mantida.
``Não há profissionais qualificados para isso atualmente no mercado", afirma Fernandez.
A vereadora contrapõe que a regulamentação do projeto -que seria feita em até 120 dias após a sanção do prefeito- poderá prever a implantação gradual do ensino obrigatório de espanhol.
O presidente da Comissão de Educação da Câmara, Maurício Faria (PT), 47, questiona a legalidade de os vereadores interferirem no currículo das escolas.
Temendo que a aprovação do projeto abra um precedente, a bancada do PT na Câmara votou contra a lei. ``Se não, o currículo das escolas municipais vai ficar como uma árvore de Natal", diz Faria.
``O conteúdo de programas e de currículos tem que ser discutido de forma global", segundo o presidente do sindicato dos professores da rede municipal (Sinpeem), Claudio Fonseca, 44, do PC do B.
``Hoje não há condições de introduzir outra disciplina na grade curricular", afirma.
Fonseca diz, ainda, que, ``mesmo que o espanhol seja oferecido fora do horário de aula, haverá problema de infra-estrutura, já que as escolas estão ocupadas quase todo o tempo".
Corrêa defende que ``a aprendizagem de espanhol auxilia a integração política e econômica da América Latina". A integração latino-americana é um dos pontos centrais do discurso do MR-8.
Para ela, ``de início, o ensino de espanhol deve ser uma opção. Mais para frente, aí, sim, acredito que deve ser obrigatório."
A assessoria de imprensa da prefeitura diz que o projeto ainda deverá passar por uma avaliação técnica-legislativa, para ver se a lei é inconstitucional.
No próximo dia 7, às 19h, Lídia Corrêa se reúne com entidades da área na Câmara Municipal para discutir seu projeto de lei.

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