São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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O social gaúcho contra o liberal paulista

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, os cenários para o ritual futebolístico de amanhã variam como as cores do arco-íris. A palheta, a gama, o espectro é vário, volúvel como o destino que desata a esperança.
Com os mesmos jogadores, o Grêmio produz dois times diferentes, semelhantes apenas na moral briosa com que seus jogadores se lançam à vitória.
Como se viu no Maracanã, como se viu no Pacaembu, o escrete black & blue gaúcho é uma prenda de grego: engana ao fingir um certo acanhamento, uma timidez, um emcabulamento de província.
Esse falso recato esconde apenas uma intenção: intumescer a soberba do inimigo (literalmente: encher a sua bola) para que ele, embevecido de si mesmo, aceite a hora da verdade em casa gaúcha.
(O Flamengo, espécie de don Juan do futebol brasileiro, cedeu às artimanhas desse jogo -de bola- sedutor e caiu em flagrante na alcova do adversário).
Não é preciso ser Borges para saber que o ``ressentimento" (atenção para o significado literário da palavra) e o senso de hombridade gaúchos se manifestam a plenos pulmões nos pampas abertos.
Ali, o time do Grêmio mostra sua outra personalidade, a do cavalo crioulo indomável: uma mistura de liberdade incontível com senso de justiça que se faz com as mãos (ou melhor, com os pés).
Na megalópole, o time gaúcho parece menor do que realmente é. Sua alma está mais acanhada do que realmente é. São todos como canta Lupiscínio Rodrigues, aliás, autor do hino gremista:
Ele sente a nostalgia da sua casa porque lá a falsidade não vigora. Lá, adquire a sua verdadeira personalidade, corajosa, combativa, zelosa das suas tradições.
Em uma palavra: o time do Grêmio é bem melhor em casa do que fora dela.
Grêmio é um nome apropriado para esse time. Grêmio também significa sociedade: é o espírito de agremiação, de senso de sociedade, de vida coletiva que é a característica em campo desse time.
Já o Corinthians, um time de craques, vem adquirindo a sua personalidade, a sua identidade. Aparentemente atua em modulação mais suave, mas mostrou disposição firme de combate no Pacaembu.
A decisão de manter o elenco principal no interior de São Paulo também foi adequada: o time, em crescendo, cresceu mais ainda. Conquistou uma força psicológica que será muito útil amanhã.
Time por time, o escrete black & white paulistano é mais próximo de um ideal estético, de uma beleza idealizada.
Também em consonância com o seu contexto cultural, o futebol do Corinthians é mais privatizante, mais flexível nas iniciativas individuais, mais permissível na livre concorrência dos jogadores.
Até agora, na copa Gaúcha, tem prevalecido a força coletiva que brota dos mares do sul. Na época do ajuste das individualidades no mercado, talvez tenha chegado a hora empreendedora paulista...
(Não passa de uma insinuação porque a história se repete e não se repete).

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