São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Ministro não vê insubordinação

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Gendarmaria chilena (polícia militar) será encarregada de evitar a fuga do general Manuel Contreras, caso os exames médicos a que ele se submeteu, a pedido do Judiciário, demonstrem que ele não pode ser transferido para uma prisão comum.
Foi o que disse ontem à Folha o ministro chileno das Relações Exteriores, José Miguel Insulza, que está em São Paulo como representante do presidente Eduardo Frei em reunião do Mercosul (Mercado Comum do Sul).
Insulza também procurou minimizar as declarações do general Pinochet, comandante-chefe das Forças Armadas, sobre os desdobramentos do episódio.
Eis os principais trechos de sua entrevista.

Folha - O general Pinochet afirmou a um jornal chileno que o julgamento de Manuel Contreras e do brigadeiro Espinoza foi injusto, porque não respeitou os direitos dos réus.
José Miguel Insulza - Não há nisso exortação para que se desrespeite o resultado do julgamento. Pinochet, hoje comandante-chefe das Forças Armadas, foi um homem por muito tempo importante e tem o direito de exprimir sua opinião pessoal.
Cabe lembrar, ainda, o fato de a maioria dos juízes da Corte Suprema que julgou Contreras e Espinoza ter sido nomeada pelo regime militar.
Folha - Caso os exames médicos a que Contreras foi submetido digam que ele pode cumprir sua pena, o que acontecerá?
Insulza - Se os peritos chegarem a essa conclusão, o hospital militar em que ele está internado deve entregá-lo à Gendarmaria para que ele seja levado para o local onde deve cumprir sua sentença.
Se, ao contrário, os exames demonstrarem que que ele precisa permanecer hospitalizado, a Gendarmaria precisa ser informada sobre o local em que ele será internado para evitar que ocorra sua fuga.
Folha - Mas a Marinha já se recusou, na semana passada, a permitir a entrada do oficial de justiça que notificaria a Contreras sua condenação. Não é um indício de que ela poderá ter um comportamento insubordinado?
Insulza - Não acredito. O comandante-chefe da Marinha afirmou que não colocaria nenhum obstáculo ao cumprimento da lei.
Folha - O que é mais importante para o Chile: a democracia ou o sucesso de seu atual modelo econômico?
Insulza - São dois fatores interligados. Caso em determinado momento um deles nos falte, o outro estará bastante comprometido.
Folha - Numa escala de zero a dez, que nota o senhor daria para a democracia no Chile?
Insulza - Minha resposta em nada tem a ver com o caso Contreras. Mas eu diria que há muitas imperfeições, e que elas estão sendo aos poucos corrigidas.
Uma delas é a inamovibilidade do comandante-chefe das Forças Armadas. Outra é a existência de senadores designados que compõem a maioria no Senado.
Mas creio que, apesar de tudo, nossa democracia está hoje com 80% dos problemas equacionados.

LEIA MAIS
Sobre a reunião de cúpula do Mercosul na pág 1-4 a 1-8

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