São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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O menor dos problemas

O presidente Fernando Henrique Cardoso declarou ontem, depois de lembrar que o Brasil gastou US$ 1,4 bilhão de dólares com a importação de carros no ano passado, que apenas 10% disso foi gasto com carros argentinos. ``Ora, é, portanto, o menor de nossos problemas de comércio externo. É claro que conseguiremos uma solução", comentou o presidente brasileiro.
É sem dúvida uma declaração alvissareira, especialmente para os colegas do Mercosul. Tudo indica que as divergências sobre o ``regime automotivo" serão não apenas discutidas nos próximos 30 dias como haverá um tratamento diferenciado para os parceiros da indústria automobilística argentina.
O episódio, entretanto, não tem como saldo apenas uma sensação de alívio. Pois, se o contencioso com os argentinos ``é o menor de nossos problemas", o que esperar do governo em termos de encaminhamento dos maiores?
Parece insensato, para dizer o menos, apostar no erguimento de uma Muralha da China de cotas para reverter o déficit comercial que se acumula e prolonga. E é provável que mesmo no caso dos carros ainda se vá conviver com importações significativas em junho e julho. Especialmente porque o governo manifestou a intenção de respeitar as condições contratuais implícitas nas compras em curso ou cujas mercadorias estivessem embarcadas na data da MP das cotas.
Se a construção de muralhas de cotas é inviável, a solução para o impasse com a Argentina revela que o presidente tem consciência da gravidade dos desequilíbrios.
Não seria de todo mal que o presidente, ou seus ministros, substituíssem as expressões lacônicas ou as explicações circunstanciais para o déficit comercial desses meses por um plano racional e factível de correção dos desequilíbrios.
Todo o Plano Real repousa sobre a estabilidade do câmbio. É muito grave o presidente da República admitir que há problemas maiores no comércio exterior sem oferecer à nação nem mesmo esboços de uma solução consistente.

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