São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os sete perplexos

A reunião dos sete países mais ricos (o G-7) tornou-se, nas últimas duas décadas, um evento que atraía as atenções do mundo. Suas decisões tinham impacto global, como quando chegou a balizar taxas de câmbio e de juros com a ação coordenada de seus poderosos bancos centrais. Mesmo no aspecto político, suas deliberações eram vistas com um respeito hoje declinante.
Face a um mundo sem comunismo, de mercados integrados que manipulam quantias imensas à velocidade da luz, de brutais explosões de xenofobia, de desequilíbrios econômicos crônicos e estruturais, o G-7 da reunião encerrada este fim-de-semana no Canadá parece tomado pela perplexidade e dividido por divergências.
EUA e Japão acusam-se quanto a suas relações comerciais, enquanto os outros cinco criticam a ambos. A Alemanha acusa o déficit público e o baixo nível de poupança dos EUA pela queda do dólar, que ameaça as economias alemã e japonesa. Washington responde que falta a estas adotar medidas para estimular a atividade econômica.
A troca de acusações pode ser reflexo da nova ordem geopolítica, que substituiu a bipolaridade político-militar por uma multipolaridade econômica, acirrando tais conflitos. Mas ela expõe também a impotência do G-7 e de seus membros nestes novos tempos.
Foi-se a época em que os bancos centrais definiam o valor das moedas. Hoje, o mercado de câmbio de US$ 1 trilhão por dia caminha por si próprio. É duvidoso se mesmo o aumento do fundo de emergência do FMI para US$ 56 bilhões basta para enfrentar vendavais especulativos como o que vergou o México.
No front político o cenário não é muito diferente. A Bósnia continua desafiando qualquer esforço de solução, e o desgaste é tal que mesmo soldados da França e aviões dos EUA são atacados. Também aqui, face à impotência, as divergências afloram no G-7.
Se o bloco vai voltar a flexionar seus músculos como antes ou tende a um definhamento conturbado, é esperar para ver. De todo modo, o que a sua perplexidade deixa patente é que o mundo está se mostrando um lugar complexo demais. Mesmo para quem é grande.

Texto Anterior: O menor dos problemas
Próximo Texto: De acusador a acusado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.