São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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Décadence avec élégance

WASHINGTON OLIVETTO

Escrevo de Cannes, sul da França, direto do Festival da Publicidade. Hoje é quinta-feira, 22 de junho, e os filmes premiados ainda não foram divulgados pela comissão julgadora.
Tudo o que sei é que existem diversos filmes fantasmas entre os finalistas, outros do tipo publicidade Miss Venezuela (retocada para entrar em concursos), outros que já concorreram em 94, além, é claro, de alguns trabalhos verdadeiramente excelentes. Espero que só esses últimos sejam premiados.
Entre os finalistas brasileiros (uma seleção bastante estranha, por sinal), meu favorito é o filme da Cultura Inglesa, feito pela Thompson. Tomara que ganhe! Torço para que a lista de premiados seja um mínimo criteriosa, principalmente porque um mau resultado no julgamento de televisão seria catastrófico para o festival, que andou bem mal das pernas no julgamento de imprensa.
Tentaram ser rigorosos e acabaram sendo medíocres. Nenhum ouro, poucos pratas e vários bronzes. Muita gente acabou sendo terceiro colocado numa competição que não teve nem segundo nem primeiro lugares. Além de aberrações do tipo leões (o prêmio do Festival da Publicidade de Cannes) diferentes para anúncios iguais e outras barbaridades.
A verdade é que o Festival de Publicidade de Cannes não tem vocação para a mídia impressa.
O pouco tempo de julgamento e as diferenças de língua e cultura do júri transformam a competição num concurso de pseudodireção de arte, onde grandes conceitos publicitários e textos consistentes passam despercebidos.
Na mídia eletrônica, a coisa funcionava muito bem, mas, de 1990 para cá, devido ao enxame de peças fantasmas e à forte politicagem do júri, o festival, infelizmente, decaiu muito.
Espero que se recupere, mas, sinceramente, acho difícil. Hoje, a maior parte dos grandes nomes abandonou o festival.
Mas, mesmo assim, os poucos que aparecem são a parte mais agradável do evento.
Este ano, estive com John Hegarty, da BBH de Londres, Patrick Shierholz, da DDB de Viena, Hermann Vasque, da Revista Archive, e mais uma porção de grandes amigos e profissionais.
As estrelonas que ainda vêm ao festival fogem da Croisette durante a semana, se hospedam em hotéis ou em villes de Cap D'Antibes, jantam no La Terrasse, em Juan-les-Pins, no L'Oasis, em La Napoule, e no Tetou, em Golf St. Juan, e só aparecem na Croisette na sexta-feira da ``short list", no sábado da premiação ou para algum almoço na praia Carlton, que continua sendo um ponto da turma.
Na verdade, hoje, a grande frequência do festival é da classe média da publicidade mundial que, com seu deslumbramento e ânsia de ganhar a qualquer custo, piorou muito a qualidade do evento, profissionalmente, mas melhorou bastante a vida dos organizadores, que ganham milhões de dólares com as inscrições.
Este ano, como em todos os anos, existem piadas sobre Cannes. Uma diz que o Palais du Festival agora tem três andares: le premier étage, le second étage e le picar étage (o primeiro andar, o segundo andar e o andar da ``picaretagem").
Outra das piadas da atual temporada em Cannes conta que a maioria dos publicitários presentes à Côte d'Azur tem certeza de que Saint Jean foi um santo, San Raphael um aperitivo e Saint-Tropez uma calça.
Fofoca-se ainda que alguns dos jurados tomam drinques num bar chamado Le Trambique e jantam no Restaurante La Mutrete.
Mas a melhor piada que rola por aqui é a do fax, contada diariamente à beira da piscina do Hôtel Du Cap-Eden-Roc em Cap D'Antibes. Só que esta, infelizmente, eu não posso contar. Primeiro porque ela é quase intraduzível e segundo porque eu estou escrevendo na Folha e não para o Casseta e Planeta.
PS: Apesar de ainda não ter sido banida dos festivais, a publicidade fantasma caiu no ridículo junto à turma que importa. Tanto que vai haver matéria-denúncia de capa na Adweek, e o gibizão da W/Brasil vai ser capa de Archive.

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