São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995 |
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Cannes premia roteiros originais e bem-humorados
NELSON BLECHER
Trata-se de uma pérola de 90 segundos, assinada por um noviço na publicidade. Até que a agência inglesa Bartle Bogle Hegarty lhe incumbisse da tarefa de produzir o comercial do jeans da Levi's, o francês Michel Goundry ganhava a vida criando clipes musicais. A câmera de Goundry percorre uma mercearia de uma cidadezinha texana ambientada nos anos 30. Um rapaz compra três camisinhas. À noite, segue com seu caminhãozinho para a casa da namorada, que o avista do terraço superior. Ele aperta a campainha e é recebido pelo pai dela, que vem a ser o mesmo comerciante que lhe vendeu o preservativo. Para assegurar uma concepção visual original, sem vinculação com a viciada linguagem publicitária, Goundry utilizou uma película com a textura característica de cinema mudo. ``Drugstore" não tem diálogos. Sua produção embarca o telespectador numa espécie de túnel do tempo. O critério de premiações de Cannes seguiu a escola do politicamente correto, como atestam três dos 11 filmes que arrebataram os principais prêmios. Em ``Ovos", da agência britânica Vickers/BBDO, uma mulher sem braços prepara o ``breakfast" valendo-se apenas da boca -um documentário de três minutos que comoveu júri e platéia e foi contemplado com um prêmio especial. ``Verdade", criado pela agência norte-americana Houston Favat, reproduz o depoimento antitabagista do neto de R.J. Reynolds, fundador de uma das maiores indústrias mundiais de cigarro. O assédio sexual é o tema do engraçado comercial criado pela agência holandesa PPGH/JWT. Mostra um homem sendo molestado por um cão, que ``confunde" sua perna com uma fêmea. ``É assim que uma mulher se sente quando assediada no trabalho", diz o locutor. Contemplado com um leão de prata, um comercial da agência carioca V&S para a Ação da Cidadania exibe com uma crua ironia crianças de rua que recitam slogans de redes de fast-food. No rolo dos vencedores brilha um representante da série enviada pela BBDO de Nova York, agência da Pepsi, que dominou a categoria de bebidas não-alcoólicas. Um garoto aspira o refrigerante com tanta força que é transportado para dentro da garrafa. Mais aplaudido que esse foi o filme em que dois motoristas, com emblemas da Coca-Cola e da Pepsi, se encontram numa lanchonete e trocam as latas para bebericar. O funcionário da Coca não quer devolver a lata de Pepsi. A publicidade norte-americana foi a grande vencedora de Cannes. Levou para casa 25 leões, dos quais quatro de ouro. Um deles foi para o filme ``Portões", da agência Bozell, criado para o jeep Cherokee, da Chrysler, que no festival de 94 ganhou o grande prêmio. Para repetir a dose de sucesso precisou apenas de uma idéia engenhosa: enquanto outros modelos têm de ultrapassar portões convencionais, o jeep escala uma murada de pedras para chegar à garagem. O norte-americano Joe Pytka foi novamente o diretor de comerciais mais premiado do festival. Seu filme para a Nike conquistou leão de ouro e mostra uma bola sendo lançada por craques mundiais em várias capitais do mundo. Os brasileiros Romário e Bebeto participam no Rio de Janeiro. Efeitos especiais e de animação garantiram à Budweiser uma das campanhas mais aplaudidas. Num deles, sapos coaxam sons que compõem a marca da cerveja. No outro, o sapo lança uma língua gigante que gruda na traseira de um caminhão de cerveja. Texto Anterior: Jovens e sexo na propaganda Próximo Texto: Consumidor europeu procura preço baixo Índice |
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