São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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Peça gay de Ulysses Cruz estréia dia 6

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A novela terminou. ``O Melhor do Homem", do diretor Ulysses Cruz, chega finalmente aos palcos paulistanos, ao vivo e a cores, no dia 6 de julho, após uma sequência de tropeços.
Rotulada como a primeira ``gay play" (peça gay) produzida no Brasil, a montagem da história da norte-americana Carlota Zimmerman -que a escreveu aos 17 anos- teve problemas de sobra desde o início.
Para interpretar o casal homossexual, Cruz convidou uma galeria de galãs que fecharia o elenco masculino de qualquer novela da Globo. Todos recusaram, à exceção de Rubens Caribé.
``Confesso que relutei a princípio, pois o tema é polêmico e difícil, mas o Ulysses me convenceu no papo", diz o ator.
Fechado o elenco -com Caribé no papel do michê Dean e o não-global Milhem Cortaz como Skyler, seu violento companheiro de cela-, começou a luta em busca de um teatro.
O contrato com o Teatro Hilton encerrou longa temporada de procura infrutífera. Mas em março, a sete dias da estréia, a administração mudou de idéia e cancelou o espetáculo, alegando que era muito ``pesado" para o espaço.
Após nova rodada de peregrinação, finalmente o Teatro Ruth Escobar foi confirmado.
Amor e trilogia
Segundo Ulysses Cruz, o amor é a mola mestra da montagem. ``É um alerta contra a situação de isolamento das minorias, especialmente em relação ao amor, essa palavra quase obscena", diz.
É aí que a peça ultrapassa o rótulo de ``gay play" para Cruz, que aposta na universalidade do tema ``amor".
``Existe a idéia de atingir um público-alvo, de gays, e esse rótulo poderia se transformar em fator de preconceito. Mas isso não aconteceu, outros públicos foram atraídos também."
O ator Milhem Cortaz diz ser prova disso. ``Não sou gay, mas o texto me mudou como homem, não como artista", diz. ``Nada melhor que mostrar o amor num casal gay, porque é muito explícito".
A idéia de Ulysses Cruz, com ``O Melhor do Homem", é iniciar uma trilogia sobre o tema.
``Começo por essa, que é sórdida à maneira de Nelson Rodrigues ou de Plínio Marcos. A segunda parte eu gostaria que tratasse do homossexualismo feminino".
Quanto à terceira, Cruz pretende criar um musical a partir de ``Devassos no Paraíso", tese do escritor João Silvério Trevisan.
A tese reconstrói a história do homossexualismo no Brasil. ``Para além do desespero, é uma celebração", diz Cruz.
Por que o tema? ``Hoje em dia, no limiar do século, temos que discutir todas as questões e eliminar a hipocrisia", afirma. ``Além disso, os personagens mais interessantes da História sempre foram os personagens de exceção", diz.

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