São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Los Angeles é o futuro

TONI LIENHARD
ESPECIAL PARA O WORLD MEDIA

1995, cinco anos para o começo do novo milênio. A insegurança e a curiosidade são grandes. O que vai acontecer? Los Angeles (EUA) fornece algumas pistas.
Há décadas sua imagem é a de uma cidade que não é uma cidade. Muitos habitantes gostariam de poder deixá-la hoje mesmo, tão forte é o medo deixado pelo último grande terremoto (janeiro de 94).
E muitos norte-americanos simplesmente odeiam Los Angeles. Julgam-na caótica, inadministrável, uma cidade que simplesmente insiste em desobedecer as regras seguidas no resto dos Estados Unidos.
Para o olhar europeu, ela é um choque. É uma aglomeração desmedida e confusa -com vias expressas e bulevares misturados, com centros e bairros que se alternam abruptamente, rica e miserável.
Para entender essa caótica massa urbana, vamos aos números. Los Angeles e redondezas se estendem por 200 quilômetros ao longo da costa do Pacífico. Dependendo de onde se consideram as fronteiras, tem entre 6 e 17 milhões de habitantes.
Hoje a indústria do entretenimento é indiscutivelmente a número um -e demonstra autoconfiança. A produção e a exportação de filmes crescem constantemente. ``O Rei Leão", lançado no ano passado, arrecadou sozinho mais de US$ 500 milhões.
Hollywood também avança na cibernética, adotando inúmeras invenções digitais no Vale do Silício. Os efeitos especiais produzidos por computador são assombrosos.
Na Califórnia, 75% das casas já têm televisão a cabo. Em poucos anos, os cabos que levam imagens às TVs vão formar a primeira superinfovia da comunicação.
Por telefone, o consumidor montará sua programação, escolhendo entre centenas de canais de TV, milhares de filmes e novos programas interativos, pagando uma conta mensal à AT&T, Bell ou MCI.
O novo salto tecnológico de Hollywood gera uma demanda por novos talentos. Busca-se uma nova geração de gênios da técnica, de caubóis do computador, de mentes criativas, de reis da comunicação.
Assim, Los Angeles passou a atrair jovens arrojados de todos os cantos dos Estados Unidos e mesmo da Europa. Esses aventureiros digitais não trazem consigo a postura hostil, as críticas e as reservas de seus pais em relação a Los Angeles.
Afinal, encontram na cidade um gigantesco caldeirão de culturas. Em 1990, dos 8,9 milhões de residentes do condado de Los Angeles, 41% eram brancos, 38% hispânicos, 10% negros, 10% asiáticos e 1% indianos, esquimós etc.
No ano 2040, estima-se que o dobro de pessoas viverá nos quatro condados, mas apenas 15% serão brancos. A grande maioria -aproximadamente 85%- será constituída de hispânicos, negros, asiáticos, indianos e até mesmo esquimós.
Não surpreende que Los Angeles seja considerada uma cidade-laboratório para a coexistência futura de todas as raças. O que a torna particularmente interessante é sua mistura de metrópole altamente industrializada do Primeiro Mundo com a imensa cidade do Terceiro Mundo.
Los Angeles é uma cidade morbidamente atraente: a fortuna rápida é tão possível e imprevisível quanto a morte rápida em um terremoto. Um modo de vida excitante e assustador: igual ao novo milênio.

Tradução de Lucia Boldrini.

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