São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Para cego, Rodin é muito expressivo

Grupo visita exposição em São Paulo

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de 15 cegos, estudantes de arte no Centro Cultural São Paulo, fez ontem visita especial à exposição do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) na Pinacoteca do Estado.
Os visitantes puderam tocar algumas das principais esculturas da exposição (são 60 ao todo), como ``O Pensador", ``O Beijo", ``Os Burgueses de Calais" e ``Eu Sou Bela".
``É muito autêntico, muito expressivo", disse André Rogério Graça, 18, ao sentir as formas do busto ``Homem de Nariz Quebrado", a primeira obra. ``Exatamente como eu imaginava."
Graça tem 5% de visão. Nasceu, em suas palavras, ``com a deficiência, mas não deficiente". Com o tempo foi perdendo a visão, que agora está estacionada. ``Nasci vendo apenas vultos e ainda percebo muitas coisas", afirma, depois identificando altura e cor de cabelo do repórter. Apalpando ``O Pensador", diz que o imaginava menor.
``Eu sabia que ele foi esculpido para ficar no alto da `Porta do Inferno', então eu achava que devia ser pequeno."
Graça define a escultura: ``É como Deus olhando a bagunça do inferno, preocupado, pensando na solução". Manuseando o braço da figura, que está apoiado no joelho e sustenta o queixo, fica impressionado: ``A tensão da peça está toda aqui". Também admira a definição da musculatura às costas do ``Pensador".
``Posso sentir o olhar dele, a concentração. É como a gente quando pensa", completa.
Graça acha que uma escultura é boa quando reproduz fielmente a realidade. Ao tocar ``O Homem do Nariz Quebrado", logo exclama: ``Parece que está viva". E diz, mostrando os malares, que ``o interessante não é só o nariz, é a precisão da região ao redor".
No Centro Cultural, aonde vai toda sexta-feira, Graça faz esculturas em argila, em geral na forma de cestos. ``Gosto daqueles cestos que aparecem nos desenhos animados, de onde o cara com uma flauta faz sair uma cobra. Gosto não porque sejam utensílios, mas porque são formas quase ideais."
Graça diz ter sentido vontade de reproduzir ``O Pensador" na próxima aula. Mas pretende fazê-lo numa forma ``menos realista, mais ideal".

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