São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Rádios livres do Brasil são menos políticas nos anos 90, diz jornalista

DA REPORTAGEM LOCAL

Desde outubro de 1993, quando a Justiça absolveu o paulistano Leo Tomaz de qualquer pena por manter uma rádio livre (chamada Reversão), o Brasil tem assistido a um novo ``boom" desses veículos não-autorizados de comunicação.
Esse ``boom" está descaracterizando o papel ``político" de rádios livres ou comunitárias, afirma a jornalista Marisa Meliani, 37, que defendeu a tese ``Rádios Livres - O Outro Lado da Hora do Brasil", na USP.
Em sua dissertação, Meliani traça um histórico do surgimento desse tipo de radiodifusão. ``Tento mostrar que as rádios não-autorizadas sempre existiram", diz.
Isso porque, segundo ela, a tecnologia do rádio é barata e fácil de ser manipulada.
Assim, a dissertação aborda as rádios que os sindicatos de mineiros bolivianos criaram nas décadas de 50 e 60, as usadas durante a Segunda Guerra Mundial e as inglesas, que lançaram o movimento musical do rock, enquanto a rádio oficial BBC se recusava a tocar aquele som.
Para a jornalista, todas essas rádios não-autorizadas tinham algum tipo de ação política -desde estratégica, como nas guerras, até de transformação cultural.
Mas foi a partir dos movimentos estudantis no fim dos anos 60 que as rádios livres adquiriram a conotação que ainda têm hoje: ser uma alternativa aos grandes meios de comunicação, à cultura de massas.
É aí que entra o problema atual no Brasil, diz Meliani. Após uma fase ``heróica", na década de 80, as rádios não-oficiais estão ficando, em sua grande maioria, nas mãos de grupos evangélicos ou de pessoas com interesses comerciais.
Segundo a pesquisa, de 50 rádios não-autorizadas de São Paulo (que tem cerca de 300 desse tipo), 44% eram evangélicas, 24% comerciais-musicais e só 24% culturais sem fins lucrativos.

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