São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Para que serve a rede?

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Esta semana o governo brasileiro deu seu primeiro passeio oficial na Internet. O Senado lançou um serviço, em caráter de teste, na World Wide Web (http://www.senado.gov.br) e Fernando Henrique posou para fotos conversando com Marcello Alencar pelo computador.
Foi uma incursão meio atrapalhada, que refletiu o lugar esquizóide que essa história toda de novas tecnologias ocupa na nossa sociedade. Por uma série de motivos a Internet é um fato consumado. Tem muita gente pondo dinheiro nela, e se criou um consenso de que é necessário "estar na rede. Ela se tornou um mercado em potencial e uma arma de marketing.
E o Brasil nessa história? Falta computador, falta telefone, falta gente para operar redes. Mas em três ou quatro ou cinco meses teremos uma Internet comercial no ar.
Complicado vai ser pensar no conteúdo. A Internet é as informações que ela carrega. O cenário ideal seria uma rede realmente útil, com informações em português. O ideal é que se existe um endereço do governo, ele sirva como canal de comunicação.
O ideal é aproveitar o fato consumado para desentupir as artérias do nosso sistema de informação. A Internet interessa -mas para quem, e por quê? Nos EUA existe uma ideologia clara agregada ao investimento na rede. É a tal "informação para todos, que na verdade é um ótimo veículo para a disseminação do "conteúdo americano pelo mundo. E aqui?

O mito da pornografia
O presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Newt Gringrich, aproveitou a inglória fama da Emenda Exon (que criminaliza transmissão de material "indecente por computador) para mandar um discurso sobre liberdade de expressão. "Acho que não é uma maneira séria de discutir uma questão séria, que é a de como manter o direito à livre expressão para os adultos e ao mesmo tempo proteger as crianças, num meio disponível a ambos.
O que é mais chocante nessa discussão toda nos EUA é que o que está em jogo não é a "moralidade.
O problema é como a sociedade americana vai "digerir esse espaço onde o imaginário é livre, e onde a gratuidade ainda é possível. Pornografia e violência se acha hoje com mais facilidade em programas de TV e cartazes de cinema, mais baratos e fáceis de encontrar que a Internet.
Só que eles fazem parte de uma indústria organizada, ao contrário da rede, onde o que se encontra são fantasias de indivíduos. Aí é mora a ameaça, nessa falta de limites entre o imaginário privado e o espaço público da rede.

Constituição online
Quem consultar o http://www.constitution.org.za encontrará os documentos oficiais da constituição da África do Sul que está sendo redigida e um endereço para mandar sugestões. Os documentos estão arquivados em forma de banco de dados.
Os sul-africanos aproveitam para declarar a intenção de escrever a "constituição mais transparente da história, com este rascunho à disposição do mundo.

Peça de ficção
Lembra do caso de Jake Baker, que sacudiu a Internet há dois meses? Baker é um estudante da da Universidade de Michigan (EUA) que colocou no grupo alt.sex.stories uma violenta história de estupro e assassinato, com o nome de uma colega de classe.
Pois o juiz encarregado do processo de Baker encerrou o caso, considerando que se tratava apenas de uma "peça de ficção de mau gosto.

O e-mail de NetVox é netfolha@sol.uniemp.br

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