São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Ataque revela fragilidade de Mubarak

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT"

Os inimigos de Mubarak estão atacando a jugular do presidente egípcio. No mínimo, o ataque de ontem prova a fragilidade de seu regime, apesar de o governo do Egito decretar que está ganhando a guerra contra o terrorismo.
Isso, com certeza, não parece ser a verdade. O ataque à comitiva em Adis Abeba foi o mais profissionalmente planejado desde o assassinato do predecessor de Mubarak, Anuar Sadat, em 1981.
Ontem, a rádio egípcia tocou músicas patrióticas para comemorar a sobrevivência do líder.
Por baixo da amável aparência da vida egípcia, porém, existe uma raiva cada vez maior contra o governo de Mubarak, contra a corrupção, a burocracia ineficiente e a tendência à ditadura.
Mesmo que os terroristas de ontem tenham vindo do Sudão, como diz crer Mubarak, não são poucos entre os jovens egípcios os que gostariam de ser aclamados assassinos do presidente.
Os três principais grupos que querem formar um governo islâmico no Egito tentam estagnar a economia e matar militares para obrigar as Forças Armadas a darem um golpe.
Para a maioria dos ocidentais, os atributos charmosos de Mubarak representam uma face aceitável do mundo árabe.
Mas, dentro do Egito, os mesmos atributos têm efeito diverso. Sua repressão aos grupos islâmicos e suas leis de restrição à liberdade de imprensa são condenadas. Jornalista que critica o governo pega cinco anos de cadeia, segundo uma lei publicada neste mês.
Mais séria ainda, entretanto, é a erosão dos direitos humanos no país. Milhares de muçulmanos têm sido torturados pela polícia política. Grupos islâmicos, por sua vez, mantêm uma campanha para assassinar policiais, funcionários públicos e turistas estrangeiros.
Mubarak costuma responsabilizar pelo terror seus inimigos familiares, como Sudão, Irã, Iraque e, às vezes, Líbia.
Mas deve ser difícil para Mubarak saber, como ele sabe, que a Embaixada dos EUA no Cairo mantém contatos secretos com pelo menos dois dos principais grupos fundamentalistas islâmicos.
Os norte-americanos querem evitar um novo Irã, quando houve total falta de contato com o poder após a queda do xá, em 1979.
Caso haja revolução no Egito, os EUA querem ter certeza de que será apenas mais um negócio a ser tratado dentro da embaixada-fortaleza no centro do Cairo.

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