São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Os 50 anos da ONU

A Organização das Nações Unidas chega aos 50 anos em meio a um debate crescente sobre a sua estrutura interna e, principalmente, sua atuação. A realidade do funcionamento da ONU ao longo desse meio século de fato revelou-se muito distante daquilo que sonhavam seus fundadores em 1945, quando o otimismo do fim da Segunda Grande Guerra corporificou-se numa entidade destinada a manter a paz e estimular a cooperação e o desenvolvimento dos povos.
A marca mais visível da ONU hoje são sem dúvida suas operações militares, e os diversos insucessos nessa área, somados às críticas de ineficiência e desperdício, reduzem a existência da organização, para muitos, a uma custosa inutilidade.
Mas, se uma rediscussão do papel da ONU e do seu funcionamento se faz realmente necessária, é preciso também evitar o simplismo na avaliação dos seus primeiros 50 anos. Longe dos holofotes, a ONU e suas várias ramificações têm intensa -e frutífera- atuação nos mais diversos campos, desde o combate integrado a doenças por meio da Organização Mundial de Saúde até programas de assistência infantil do Unicef, passando pela indiscutível ação do Alto Comissariado para Refugiados e a fiscalização de eleições em vários países.
Mesmo no campo mais luminoso dos grandes temas internacionais, há experiências como o embargo à Rodésia (hoje Zimbábue) e à África do Sul, fundamentais para a derrubada dos regimes de segregação racial, sem mencionar a Guerra do Golfo -para muitos um parâmetro para julgar o fracasso na Bósnia e um exemplo da dualidade das reações das Nações Unidas.
É preciso ter em mente contudo que as Nações Unidas constituem uma organização de tipo intergovernamental, ou seja, sua vontade não pode ser mais do que a soma das vontades dos seus membros -os principais, pelo menos. Se ela não age, ou o faz com dois pesos e duas medidas, é porque os seus componentes assim quiseram.
De certa forma, o que a ONU faz, além da multiplicidade de atividades setoriais específicas, é oferecer um fórum -o maior já criado, hoje com 185 membros- no qual os países do mundo podem se encontrar, debater, eventualmente decidir. Ao fim e ao cabo, ainda é a eles que compete escolher como, quando e se vão aproveitar esse fórum para concretizar o ideal de paz que, hoje como em 1945 e em toda a história da humanidade, continua ainda apenas um sonho.

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