São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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Rock censurado A imagem do Congresso Nacional como instituição deve ser respeitada. O Parlamento é a voz da população, em nome da qual todo o poder é exercido. As duas Casas são, assim, um dos fundamentos da democracia, que, apesar de seus problemas e imperfeições, foi a melhor forma de governo até hoje experimentada pela humanidade. A dignidade do Congresso não o torna, porém, imune a críticas, outro instrumento crucial para o exercício da democracia. E há várias modalidades de crítica. Há a construtiva, a mais dura e até a jocosa, para citar apenas algumas. Todas elas são legítimas. Nesse sentido, a iniciativa da Procuradoria Geral da Câmara de impedir que a banda de rock ``Paralamas do Sucesso" exibisse uma de suas canções que faz críticas ao Congresso em show realizado na sexta em Brasília é um retrocesso. É claro que as pessoas têm de responder pelo que fazem ou dizem. Se algum parlamentar se sentir ofendido com passagens ou com o todo da canção, tem todo o direito de processar os autores com base nas leis de crime contra a honra ou exigindo reparações. Algo muito diverso -e lamentável- é simplesmente proibir que a música fosse cantada. Trata-se de um dispositivo que em muito lembra a terrível censura prévia dos tempos da ditadura, felizmente proscrita pela Constituição de 1988. O Congresso pode e deve trabalhar para melhorar a sua imagem, hoje bastante desgastada. A pior maneira de fazê-lo é desenterrar instrumentos de cunho autoritário para calar a voz dos críticos. Muito mais producente seria justamente um esforço para combater alguns dos vícios e distorções apontados na letra da música: ``É lobby, é conchavo, é propina e jeton". Das Casas que representam a voz da população, a última coisa que se esperaria é que calassem a voz da população que representam. Texto Anterior: Os 50 anos da ONU Próximo Texto: Carros encalhados Índice |
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