São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Lamas do sucesso

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - Censuraram os Paralamas do Sucesso no planalto central. A música alusiva aos 300 picaretas mexeu com os brios da Câmara dos Deputados, que acionou o Ministério Público. A liberdade de expressão sucumbiu sob a ameaça de prisão.
Mas não há motivo para precipitações. Ninguém pode sair por aí falando que não há liberdade para dizer o que se pensa. Exemplo disso é dado pelo governo federal, que vai gastar R$ 10 milhões para falar do Real.
O dinheiro para pagar a campanha virá das taxas cobradas pela emissão de cheques sem fundo. Deve-se aplaudir a genialidade de se transformar um dos sintomas da inadimplência crescente em fonte de verbas para a apologia do plano que completa um ano.
Uma das missões da nova propaganda oficial será explicar ao povo como conviver com os baixos índices de inflação. Já era hora de alguém se preocupar com isso.
Caso sobre algum dinheirinho, o governo poderia explicar o motivo de haver cortado metade da verba do setor de saúde neste ano em relação a 94. É claro que não se deve gastar muito divulgando a explicação.
Sempre haverá alguém de má vontade, que vai achar que o dinheiro público deveria ter destinação mais nobre. Por exemplo: aumentar o salário dos parlamentares.
O Senado está estudando uma fórmula para se autoconceder um aumento salarial sem contrariar a lei, que determina que reajustes só possam ser feitos na legislatura anterior.
Um dos jeitinhos seria transformar em ganhos diretos os benefícios indiretos do cargo, como moradia gratuita e passagens aéreas.
De qualquer forma, a solução tem que ser rápida, pois já há senador sem dinheiro para pagar motorista particular em seu Estado de origem. Miséria das misérias.
A política é cruel. Senadores que estão na pindaíba com o salário mensal de R$ 8 mil são obrigados a ouvir de colegas mais abastados que é preciso ter fontes alternativas de renda.
Sugestões não faltam. Quem sabe uma concessão de rádio e TV. Quem sabe um empréstimo subsidiado no Banco do Brasil.

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