São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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"Não largo paciente na mesa"

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista do ministro da Saúde, Adib Jatene, concedida por telefone, ontem, de sua casa, em São Paulo:

Folha - Ministro, a reunião em Brasília foi dura, não?
Adib Jatene - Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
Folha - O sr. está buscando verba e não consegue nada...
Jatene - A decisão é amanhã (hoje). Estive com o presidente hoje (ontem) à tarde e amanhã (hoje) tenho uma reunião com o presidente de novo. Ele me disse que quer fazer uma reunião conjunta com Malan e Serra.
Folha - Até agora, nenhuma proposta foi aceita.
Jatene - Eu estou otimista.
Folha - Parece que o sr. deu até um murro na mesa.
Jatene - É que você diz `assim não dá' e... Tenho muita experiência de serviço público, estou nisso há 40 anos e sei que não é fácil.
Folha - Qual é a proposta?
Jatene - Não quero antecipar nada. A mais provável, a mais viável, é essa do imposto do cheque. Como a receptividade no Congresso é muito boa, acho que vamos conseguir.
Folha - A Fazenda é contra.
Jatene - Sempre disse que o pessoal da Fazenda é contra e deve ser contra. Mas eu quero é que se cumpra a determinação do Congresso.
Folha - E se não houver solução, o sr. deixa o governo?
Jatene - Não. Não sou melindroso. Sou um homem de lutar pelas coisas. Sou cirurgião. Quando o doente está mal, na mesa, eu não largo ele e vou embora.
Folha - O sr. está agora escrevendo o bilhetinho ``assim não dá, estou fora"?
Jatene - (Risos)
Folha - Então, o sr. se reúne com Serra e Malan?
Jatene - É. Não tem nenhum problema. Você sabe que o pessoal da Fazenda cria todas as dificuldades, lógico. Não tenho queixa da Fazenda. Estou recebendo todos os recursos que devo receber do Orçamento.
Talvez, eu seja o único ministro que tem recebido o que está no Orçamento.
Folha - Está difícil trabalhar?
Jatene - Estou há três meses dizendo que a situação está crítica. Parece que não acreditaram. Agora estão vendo que a rede hospitalar está sem condições de se sustentar.
Folha - E essa proposta de cobrar pelo atendimento?
Jatene - Mas que cobrança? Quem pode pagar é um grupo pequeno. Você acha que alguém que ganha R$ 200,00 vai poder pagar tratamento?

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