São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Privatização, a boa

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - As Câmaras Americanas de Comércio promovem hoje a festa de entrega dos prêmios Eco-1995. Em circunstâncias normais, nem seria notícia, a não ser como evento social.
Mas os cinco projetos premiados parecem simbolizar fenômeno crescente no país: o envolvimento da sociedade em tarefas que seriam típicas de governo. Uma evidência adicional de que a sociedade (empresariado incluído) já intuiu que o Estado, por falência ou pura incompetência, não vai conseguir resolver nem sequer os problemas classicamente a ele afetos.
Na educação, o Banco Itaú leva o prêmio pelo projeto ``Raízes e Asas", destinado a mobilizar diretores, coordenadores e professores de escolas públicas de primeiro grau para ``repensar a escola, examinando seu próprio desempenho e o dos alunos e propondo mudanças para melhorá-los".
Não é exatamente o que se supõe que o Estado deveria fazer?
Passe-se para a saúde. A IBM ganha com um convênio com as secretarias da Saúde das cidades do Rio de Janeiro e Fortaleza (CE) para combater doenças tropicais.
Não é precisamente o que o poder público deveria fazer?
A CAF Santa Bárbara, por sua vez, escolheu a cidade mineira de Carbonita para um projeto destinado a tentar fixar o homem do campo na região e desenvolver a sua comunidade. Carbonita fica no Vale do Jequitinhonha, considerado pela ONU a quarta região mais pobre e atrasada do mundo.
Há ainda o projeto ``Salve o Dilúvio" (Unibanco), parceria para tentar recuperar o arroio Dilúvio, principal afluente do gauchíssimo rio Guaíba. Para não mencionar a Iochpe Maxion, com um projeto de ``Arte na Escola".
Não conheço nenhum dos projetos e, ao mencioná-los, não os estou avalizando. Apenas reforçam um palpite meu: o de que, se o Brasil tem jeito (o que é bastante discutível, diga-se), esse jeito virá do engajamento da comunidade na busca de soluções para os seus próprios problemas.
O Estado tornou-se grande demais para os pequenos problemas e é pequeno demais para os grandes problemas. Ou é empurrado de baixo ou o país será eternamente esta indecência visível a olho nu nas grandes cidades e, agora, até nas médias.

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