São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Para Simonsen, MP é `bem feita'

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-ministro Mário Henrique Simonsen, 60, considerou a MP da desindexação baixada ontem pelo governo ``bem feita". Segundo ele, é a ``desindexação que pode ser feita no momento". Simonsen é menos condescendente com o governo quando trata da balança comercial, que vem apresentando sucessivos déficits. ``Ainda não me convenceram de que o Brasil não é o México. Só vou acreditar nisso depois que voltarem os superávits comerciais", completou. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Como o sr. avalia a MP da desindexação?
Mário H. Simonsen - Achei a medida provisória anunciada bem feita. É a desindexação que é possível ser feita no momento.
Folha - E o fato dos salários ficarem sem nenhum tipo de indexador?
Simonsen - É um absurdo o argumento de alguns que defendem a indexação dos salários, usando os impostos (que continuarão sendo corrigidos pela Ufir) como exemplo a ser seguido. O que ocorre é que os salários podem ser negociados livremente, enquanto os impostos, não.
Folha - O que o sr. achou da criação da TBF (Taxa Básica Financeira, que vai remunerar exclusivamente as aplicações com prazo igual ou superior a 60 dias)?
Simonsen - A Taxa Básica Financeira é a TR (Taxa Referencial) limpa. Ou seja, é a Taxa Referencial sem a figura do redutor. O fato é que é preciso se criar uma Libor (taxa de juros do mercado internacional) brasileira, é isso que a TBF deve ser.
Folha - Qual a avaliação que o sr. faz do primeiro ano do Plano Real?
Simonsen - O saldo do Real nesse primeiro ano é positivo em termos de índice de inflação. É positivo também em termos de crescimento da economia. Porém, é muito negativo em termos de balanço de pagamentos. O governo valorizou o real quando deveria ter desvalorizado.
Folha - E qual a saída para equilibrar a balança comercial?
Simonsen - O governo vai ter de fazer um `mix' de vários mecanismos. Vai precisar realinhar o câmbio, desaquecer a economia e fechar temporariamente determinados setores da economia, como fez com os carros.
Folha - O sr. acredita que o país caminha para uma recessão?
Simonsen - Vai haver desaquecimento, mas não é possível estabilizar a economia com os níveis de crescimento que a economia estava apresentando. O país precisa no momento de poupança, é isso o que falta. O governo hoje despoupa.
Folha - Mas o país não está dependendo hoje da presença de capitais estrangeiros de curto prazo para fechar suas contas?
Simonsen - Sem dúvida, e isso é perigoso. Se fosse capital estrangeiro de longo prazo não teria problema. Até agora não me convenceram de que o Brasil não é parecido com o México. Só vou acreditar que o Brasil não é o México depois que voltar o superávit comercial, até lá continuo não acreditando.
Folha - O sr. acredita que as taxas de juros vão cair?
Simonsen - Mesmo que as taxas de juros caiam, não vai haver investimento. As taxas devem cair, porém em ritmo lento.
Folha - O sr. seria favorável à políticas industriais para alguns setores da economia?
Simonsen - Não dá para falar em políticas industriais setoriais no Brasil. Isso acaba virando casuísmo. Acaba dando em uma política de protecionismo, como era a Lei da Informática. Não é o caso de voltarmos a isso.

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