São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trabalhador ganha, diz Roberto Campos

RITA FERNANDES
DA SUCURSAL DO RIO

O economista e deputado federal Roberto Campos (PPR-RJ) aprovou as medidas de desindexação anunciadas pelo governo.
Afirmou que a indexação dos salários era um indutor do desemprego e que, ao contrário do que se pensa, os trabalhadores ganham com o fim do indexador oficial.
Para o deputado, é preciso ter cuidado com a poupança. ``A poupança deve ter desindexação gradual, porque afeta o nível de investimento", ressaltou.
Campos lembrou que, depois do confisco no governo Collor, um dos graves problemas brasileiros é aumentar o nível da poupança.

Folha - O que o sr. acha das medidas adotadas pelo governo para a desindexação?
Roberto Campos - Eu acho que o movimento de desindexação é saudável e oportuno. A desindexação de salários aumenta a flexibilidade da mão-de-obra e isso favorece o nível de emprego.
Havia uma grande ilusão em imaginar que a indexação é efetiva proteção para os salários. Na realidade, criava rigidez na estrutura salarial e era fator indutor do desemprego.
Dados recentes indicam que salários na economia informal e no setor de autônomos têm aumentado mais, apesar de desprotegidos pela indexação, do que os salários indexados.
Folha - E quanto aos setores que ficaram protegidos, como a poupança e o sistema financeiro de um modo geral ?
Campos - Eu acho que, na poupança, o que se cogita é uma desindexação gradual. O que é razoável, porque a poupança tem de ser tratada delicadamente. Afeta diretamente o nível de investimentos, e dos investimentos dependem os empregos e dos empregos, o nível de salários.
E algum cuidado é necessário porque nós sofremos o trauma do confisco na fase Collor e um dos graves problemas brasileiros é justamente aumentar a taxa de poupança. De modo que os cuidados especiais em relação à poupança, para evitar impactos psicológicos desfavoráveis, são necessários.
São úteis para os trabalhadores porque, afinal de contas, só existem empregos se houver investimento. Só existem salários se houver empregos. Todas essas coisas só existem se houver poupança.
Folha - Na sua opinião, que outros setores devem manter, por algum tempo, algum indexador?
Campos - Basicamente, tem que se prestar especial atenção em relação à poupança. E no caso da Ufir, há também um problema que exige um prazo especial.
E também os contribuintes podem sofrer uma tributação adicional, se aumenta a sua renda nominal e não há nenhuma indexação válida para efeitos tributários. Agora, essa indexação tem que desaparecer no tempo, à medida que baixamos para a estabilidade. Então, a primeira coisa seria alongar o período de aplicação da Ufir para seis meses, depois para um ano, e depois em seguida, totalmente.

Texto Anterior: Banco central e CMN divulgam resoluções
Próximo Texto: Brasileiro leva tempo para se `desindexar'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.