São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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REPERCUSSÃO

Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo): ``A MP da desindexação é menos ampla do que se esperava, mas positiva. Um dos pontos mais positivos é o fim da concessão do índice de produtividade pelos tribunais. A partir de agora, o índice será estimado objetivamente pela empresa. Empresas que dão prejuízo não serão obrigadas a conceder o índice a seus empregados. Também acho muito interessante a criação da figura do mediador para acertar divergências entre empresários e trabalhadores".

Paulo Maluf (PPR), prefeito de São Paulo: ``Vejo as medidas como corretas. É verdade que a indexação servia também como uma barreira à hiperinflação, mas agora, com a inflação contida, já podemos passar para o segundo estágio do Plano Real, que é a desindexação. A indexação não existe em nenhum país desenvolvido. Na economia desindexada, o mercado é mais forte que o governo".

José Genoino, deputado federal (PT-SP): ``A classe média perde pelo custo de escola e convênio médico. Os assalariados também perdem, porque é difícil se sair bem na livre negociação com risco de desemprego. O governo ganha ao manter o controle do real com a nova gestão. O custo social do real no segundo semestre vai ser o principal tema de debate no país".

Antonio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio: ``No curto prazo perdemos todos, porque será necessário forte reajustamento de todos os setores da economia. A médio e longo prazo, se houver boa gerência por parte do governo, ganharemos todos".

Ernane Galvêas, ex-ministro da Fazenda (governo Figueiredo): ``Não houve de fato uma desindexação. Houve, sim, o engessamento de alguns preços da economia e o alongamento dos prazos de correção dos investimentos. O sistema financeiro não perde com a ampliação dos prazos de investimento, ao contrário. Perde o investidor, brasileiro e estrangeiro, que fica sem a mesma liberdade de movimentação de capitais".

Ives Gandra da Silva Martins, professor emérito das universidades Mackenzie e Paulista: ``O governo não teria outra alternativa, a não ser que desse uma velocidade máxima ao programa de privatização, o que seria difícil no momento. O que aconteceu de fato foi um congelamento de inflação e preços, o que poderíamos chamar de uma repressão de preços. As medidas, no entanto, dão margem a um festival de ações jurídicas. O pacote prevê um cenário de inflação zero e, caso isso não ocorra, qualquer cidadão que se sentir prejudicado nos seus contratos poderá recorrer aos seus direitos".

Émerson Kapaz, empresário e secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo: ``A desindexação tem que andar junto com a redução da inflação. A medida do governo é necessária para que o país possa reduzir a inflação para apenas um dígito. Vejo, porém, alguns problemas. Falta um instrumento como o contrato coletivo".

André Franco Montoro Filho, secretário de Planejamento de São Paulo: ``A desindexação de curto prazo, generalizada, é algo correto contra a inflação".

David Zylbersztajn, secretário de Energia de São Paulo: ``A desindexação é um caminho óbvio. Não há alternativa. Se não quebrarmos a memória, não conseguiremos nada".

Luiz Antonio Fleury Filho, ex-governador de São Paulo: ``O alongamento dos prazos de aplicação são corretos, porque isso contribui para diminuir a ciranda financeira. Com relação à desindexação, o único receio é que a medida está sendo tomada num momento de desemprego e isso faz com que categorias menos mobilizadas corram o risco de ser prejudicadas na negociação salarial".

Bolívar Lamounier, cientista político: ``Nas questões salário e contratos, as medidas são necessárias. Ao determinar taxas para recuperação de perdas, o governo engessava a sociedade. A medida é correta, porque a sociedade tem que acabar com a tradição paternalista que vem desde a era Vargas".

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: ``Todo mundo vai perder com a desindexação. É que essa medida esfria ainda mais a economia. As empresas, que já estão vendendo menos, vão ter que entregar parte do negócio, e os trabalhadores vão ter menos força para brigar. Esse é o preço que se paga para acertar a economia".

Elvio Aliprandi, presidente da Associação Comercial de São Paulo: ``Essas medidas são necessárias, mas não suficientes para a estabilização da economia. É que a desindexação acaba com o repasse da inflação passada, mas não com a causa da inflação: o déficit público. O momento é oportuno".

Arthur Sendas, presidente do Grupo Sendas: ``Toda a sociedade ganha com essas medidas, porque o governo está tentando reconduzir a economia a nível de Primeiro Mundo. São medidas de bom senso. A desindexação está sendo feita no momento certo: quando o Plano Real completa um ano e o governo está colhendo resultados bastante positivos".

Michel Klein, diretor da Casas Bahia: ``O governo está fazendo a desindexação no momento correto, porque hoje sobra produto na indústria. Todo mundo sai ganhando com a desindexação. O comércio compra produtos sem um indexador, com preços mais estáveis, e consegue vender mais".

Paulo Afonso Feijó, presidente da Associação Brasileira de Supermercados: ``A desindexação já vem tarde. Há um ano o mercado está trabalhando livremente, tendo como base os seus custos. A nossa entidade defende a livre negociação. Quem determina o preço de um bem ou serviço é o mercado. Com o salário deve ser a mesma coisa".

Walter Barelli, secretário de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo: ``Se houver boa vontade de ambas as partes nas negociações e competência dos sindicatos, o país vai caminhar bem. As categorias menos organizadas são favorecidas se não houver inflação".

Zélia Cardoso de Mello, economista, ministra da Economia do governo Collor (1990-92): ``Vejo um problema principal: é o fato de o governo ter feito a desindexação nos salários e ter mantido a indexação para a cobrança de impostos. Isso mostra uma certa insegurança da equipe do governo e prejudica a imagem do plano perante a opinião pública. Com o restante das medidas, ocorreu o óbvio, o que todo mundo já sabia que iria acontecer".

Paulo César Farias, o PC, empresário e ex-tesoureiro da campanha do ex-presidente Collor (1989): ``É uma coisa de país de Primeiro Mundo. A indexação era o pior mal".

Celso Bastos, professor de direito constitucional da PUC-SP: É um conjunto de medidas bastante moderado, comparando-se a tentativas anteriores que ocorreram na nossa economia".

Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos): ``A grande novidade para o sistema financeiro é a criação do que estamos chamando de depósito a taxas flutuantes, que será remunerado pela TBF (Taxa Básica Financeira) e um prêmio que será determinado pela qualidade de cada banco. É uma medida engenhosa que permite atrair o aplicador em CDB de 30 dias para o depósito de 90 dias, alongando o prazo de captação dos bancos e abrindo espaço para o governo também colocar seus títulos com prazos mais longos. Com uma procura menor pelo CDB, que é o juro básico dos bancos e está muito alto, este tende a cair, produzindo efeitos na TBF".

Pedro Camargo Neto, coordenador-geral do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais): ``Uma economia de mercado é desindexada. O governo está errado ao não perceber que existem medidas a tomar em alguns setores. O problema salarial é o que mais me preocupa. Os setores mais fracos sofrem muito".

Eduardo Capobianco, 43, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo: ``O caminho é correto, desde que desindexação não seja confundida com congelamento de contratos. Preços devem absorver variações. Se não houver distorção, vamos acabar com a inflação e estabilizar a economia".

Álvaro Antônio Zini Jr., professor de economia da USP: "As medidas são corretas, mas o governo precisa avançar em dois pontos. Sem uma correção corajosa das taxas de câmbio, mesmo que ocorra inflação, e sem corte de gastos, a desindexação não terá efeito. Para o cidadão normal, porém, vejo a poupança de 90 dias favoravelmente. porque ela apresenta uma alternativa de ganho.

Paulo Nogueira Batista Júnior, professor de macroeconomia da Fundação Getúlio Vargas: ``O objetivo geral da desindexação é válido, mas a medida adotada agora é problemática para os setores assalariados menos organizados. Com a conjuntura de desaceleração da economia, o poder de barganha dos trabalhadores é muito diminuído. Além disso, existe a tendência de aumento da inflação nos próximos meses, o que prejudica ainda mais os salários".

Osiris Lopes Filho, 55, ex-secretário de Receita Federal (governo Itamar): "A desindexação é uma decorrência natural dos rumos tomados pelo Plano Real. Porém, é lamentável ver que o primeiro ponto a ser erodido é justamente o salário, que irá perder com a medida. A chamada liberalização da negociação de aluguéis também prejudica seriamente os inquilinos.

Roberto Macedo, 51, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos: "Não adianta achar que a desindexação vai ajudar sozinha a acabar com a inflação. Ela apenas desacelera o processo inflacionário. O problema todo está no déficit público, e isso parece que não está sendo atacado de forma convincente pelo governo federal.

Ivan Pinto, presidente da Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap): ``As medidas estão corretas, porque representam um esforço para o início da desindexação da economia. Nunca vamos nos livrar do medo do retorno da inflação, se não enfrentarmos o touro à unha. Não sei julgar se deveriam ser implementadas há quatro meses ou se no futuro. Provavelmente vão agravar os conflitos trabalhistas, mas, como diz um velho samba, ninguém tem nada de bom sem sofrer".

Pedro Grendene, presidente da Grendene/Vulcabrás: ``Acho que as medidas em princípio são corretas, mas é um pouco precipitado que o governo tente resolver seus problemas jogando o ônus maior do ajuste na iniciativa privada e nos trabalhadores, enquanto o governo está protegido. Sem um índice básico, as negociações capital e trabalho tendem a ficar difíceis e produzirão conflitos de toda ordem. A meu ver, a livre-negociação deveria ocorrer em condições mais propícias".

José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores): ``A desindexação acontece no momento certo. O governo agiu corretamente ao desencadear o processo de forma gradual. Dessa forma tem condições de fazer a sintonia fina durante os próximos meses. Quem ganha com a desindexação é o brasileiro. Vamos poder retomar o velho hábito de negociar, que estava meio fora de moda".

Roberto Barreto Filho, vice-presidente do Banco Econômico: ``O depósito remunerado pela TBF pode ser um bom instrumento de captação de recursos para os bancos na medida em que permite alongar os prazos, com maior taxa de juros quanto mais longo for o prazo da aplicação. Acho que ele foi criado para concorrer com as aplicações em CDB e em fundos de investimentos e não com a caderneta de poupança".

Octávio Bueno, professor de direito do trabalho da USP: ``A desindexação é ótima em todos os sentidos. Alguns resíduos inflacionários precisavam ser combatidos, entre eles o reajuste automático dos salários. Para isso, o instrumento mais eficaz é a livre negociação. Não vejo qualquer inconstitucionalidade na MP, mas os juízes do trabalho vão ficar provavelmente contra. O texto restringiu o poder normativo dos juízes e pode haver uma reação".

Eduardo Suplicy (SP), líder do PT no Senado: ``A TBF representa um tabefe para o trabalhador".

Esperidião Amin (PPR-SP), senador: ``A livre negociação proposta pelo governo coloca um aleijado e um atleta na disputa de uma prova de 100 metros rasos".

José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara: ``A tendência do Congresso vai ser manter a muleta para os salários (reposição salarial)".

Miro Teixeira, líder do PDT na Câmara: ``Não pode continuar existindo um modelo econômico que exclua o trabalhador".

Michel Temer (SP), líder do PMDB na Câmara: ``A figura do mediador é para proteger o trabalhador menos protegido".

Aloizio Mercadante, vice-presidente do PT: ``Os assalariados vão pagar a conta apresentada pelo governo. Os salários ficam sem defesa, e os impostos e aplicações continuam com indexadores. O arrocho salarial será usado para tentar impedir a aceleração inflacionária e a desvalorização cambial, que acabará sendo adotada. Os bancos ganham, já que continuam com a taxa de juros muito elevada".

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