São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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REPERCUSSÃO

Roberto Campos, economista e deputado federal (PPR-RJ): ``Eu acho que o movimento de desindexação é saudável e oportuno. A desindexação de salários aumenta a flexibilidade da mão-de-obra e isso favorece o nível de emprego. Havia uma grande ilusão de se imaginar que a indexação é efetiva proteção para os salários. Na realidade, criava rigidez na estrutura salarial e era fator indutor do desemprego".

Claudio Adilson Gonçalez, sócio da empresa de consultoria MCM: ``Se eu estivesse no governo, não faria isso agora. Do ponto vista político, o governo pode não conseguir aprovar a medida provisória da desindexação no Congresso Nacional, porque em julho a inflação deve atingir o pico".

Paulo Maluf (PPR), prefeito de São Paulo: ``Vejo as medidas como corretas. É verdade que a indexação servia também como uma barreira à hiperinflação, mas agora, com a inflação contida, já podemos passar para o segundo estágio do Plano Real, que é a desindexação. A indexação não existe em nenhum país desenvolvido. Na economia desindexada, o mercado é mais forte que o governo".

José Genoino, deputado federal (PT-SP): ``A classe média perde pelo custo de escola e convênio médico. Os assalariados também perdem, porque é difícil se sair bem na livre negociação com risco de desemprego. O governo ganha ao manter o controle do real com a nova gestão. O custo social do real no segundo semestre vai ser o principal tema de debate no país".

Antonio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio: ``No curto prazo perdemos todos, porque será necessário forte reajustamento de todos os setores da economia. A médio e longo prazo, se houver boa gerência por parte do governo, ganharemos todos".

Ernane Galvêas, ex-ministro da Fazenda (governo Figueiredo): ``Não houve de fato uma desindexação. Houve, sim, o engessamento de alguns preços da economia e o alongamento dos prazos de correção dos investimentos. O sistema financeiro não perde com a ampliação dos prazos de investimento, ao contrário. Perde o investidor".

Patrus Ananias (PT), 43, prefeito de Belo Horizonte: ``Quanto à questão salarial, é uma injustiça, um recuo ao passado. A medida deixa ao desabrigo trabalhadores menos protegidos".

Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo): ``A MP da desindexação é menos ampla do que se esperava, mas positiva. Um dos pontos mais positivos é o fim da concessão do índice de produtividade pelos tribunais. A partir de agora, o índice será estimado objetivamente pela empresa".

Émerson Kapaz, empresário e secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo: ``A desindexação tem que andar junto com a redução da inflação. A medida do governo é necessária para que o país possa reduzir a inflação para apenas um dígito".

André Franco Montoro Filho, secretário estadual de Planejamento: ``A desindexação de curto prazo, generalizada, é algo correto contra a inflação. É uma decisão tomada no momento adequado para que possamos consolidar o combate à inflação. A indexação enrijecia as relações trabalhistas e tornava muito difícil a redução real dos preços".

David Zylbersztajn, secretário de Energia de São Paulo: ``A desindexação é um caminho óbvio. Não há alternativa".

Luiz Antonio Fleury Filho, ex-governador de São Paulo: ``O alongamento dos prazos de aplicação são corretos, porque isso contribui para diminuir a ciranda financeira. Com relação à desindexação, o único receio é que a medida está sendo tomada num momento de desemprego e isso faz com que categorias menos mobilizadas corram o risco de ser prejudicadas na negociação salarial".

Bolívar Lamounier, cientista político: ``Nas questões salário e contratos, as medidas são necessárias. Ao determinar taxas para recuperação de perdas, o governo engessava a sociedade. A medida é correta, porque a sociedade tem que acabar com a tradição paternalista que vem desde a era Vargas".

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: ``Todo mundo vai perder com a desindexação. É que essa medida esfria ainda mais a economia. As empresas, que já estão vendendo menos, vão ter que entregar parte do negócio, e os trabalhadores vão ter menos força para brigar. Esse é o preço para acertar a economia".

Elvio Aliprandi, presidente da Associação Comercial de São Paulo: ``Essas medidas são necessárias, mas não suficientes para a estabilização da economia. É que a desindexação acaba com o repasse da inflação passada, mas não com a causa da inflação: o déficit público. O momento é oportuno".

Arthur Sendas, presidente do Grupo Sendas: ``Toda a sociedade ganha com essas medidas, porque o governo está tentando reconduzir a economia a nível de Primeiro Mundo. São medidas de bom senso. A desindexação está sendo feita no momento certo: quando o Plano Real completa um ano e o governo está colhendo resultados bastante positivos".

Michel Klein, diretor da Casas Bahia: ``O governo está fazendo a desindexação no momento correto, porque hoje sobra produto na indústria. Todo mundo sai ganhando com a desindexação".

Paulo Afonso Feijó, presidente da Associação Brasileira de Supermercados: ``A desindexação já vem tarde. Há um ano o mercado está trabalhando livremente, tendo como base os seus custos. Defendemos a livre negociação".

Walter Barelli, secretário de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo: ``Se houver boa vontade de ambas as partes nas negociações e competência dos sindicatos, o país vai caminhar bem. As categorias menos organizadas serão favorecidas se não houver inflação".

Zélia Cardoso de Mello, economista, ministra da Economia do governo Collor (1990-92): ``Vejo um problema principal: é o fato de o governo ter feito a desindexação nos salários e ter mantido a indexação para a cobrança de impostos. Isso mostra uma certa insegurança da equipe do governo e prejudica a imagem do plano perante a opinião pública".

Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos): ``A grande novidade para o sistema financeiro é a criação do que estamos chamando de depósito a taxas flutuantes, que será remunerado pela TBF (Taxa Básica Financeira) e um prêmio que será determinado pela qualidade de cada banco".

Pedro Camargo Neto, coordenador-geral do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais): ``O governo está errado ao não perceber que existem medidas a tomar em alguns setores. O problema salarial é o que mais me preocupa. Os setores mais fracos sofrem muito".

Eduardo Capobianco, 43, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo: ``O caminho é correto, desde que desindexação não seja confundida com congelamento de contratos".

Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia): ``Sou favorável, mas acho que as medidas deveriam ter sido mais ousadas e desindexado tudo de vez. A desindexação parcial ajuda a conservar a memória inflacionária".

Nelson Peixoto Freire, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee): ``As medidas são corretas. É necessário acabar com a cultura inflacionária. É difícil dizer se foram tomadas no momento certo".

Joseph Couri, presidente do Sindicato das Micros e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi): ``A partir do momento em que se acaba com os indicadores, os preços subirão em função de aumentos de custos reais. É uma grande vantagem. Força capital e trabalho a negociar de forma profissional".

Álvaro Antônio Zini Jr., professor de economia da USP: "As medidas são corretas, mas o governo precisa avançar em dois pontos. Sem uma correção corajosa das taxas de câmbio, mesmo que ocorra inflação, e sem corte de gastos, a desindexação não terá efeito. Para o cidadão normal, porém, vejo a poupança de 90 dias favoravelmente. porque ela apresenta uma alternativa de ganho".

Paulo Nogueira Batista Júnior, professor de macroeconomia da Fundação Getúlio Vargas: ``O objetivo geral da desindexação é válido, mas a medida adotada agora é problemática para os setores assalariados menos organizados. Com a conjuntura de desaceleração da economia, o poder de barganha dos trabalhadores é muito diminuído. Além disso, existe a tendência de aumento da inflação nos próximos meses, o que prejudica ainda mais os salários".

Osiris Lopes Filho, 55, ex-secretário de Receita Federal (governo Itamar): "A desindexação é uma decorrência natural dos rumos tomados pelo Plano Real. Porém, é lamentável ver que o primeiro ponto a ser erodido é justamente o salário, que irá perder com a medida. A chamada liberalização da negociação de aluguéis também prejudica seriamente os inquilinos".

Ernesto Guedes Filho, 38, economista da MCM Consultores Associados: "Por um lado, a desindexação é um avanço numa parte bem-sucedida do plano, mas, por outro, ela vem em uma hora preocupante, quando a inflação tende a subir. Aí a indexação em certas operações financeiras torna-se uma necessidade técnica, por mais que existam decretos contra ela".

Roberto Macedo, 51, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos: "Não adianta achar que a desindexação vai ajudar sozinha a acabar com a inflação. Ela apenas desacelera o processo inflacionário. O problema todo está no déficit público, e isso parece que não está sendo atacado de forma convincente pelo governo federal".

Ivan Pinto, presidente da Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap): ``As medidas estão corretas, porque representam um esforço para o início da desindexação da economia. Nunca vamos nos livrar do medo do retorno da inflação, se não enfrentarmos o touro à unha. Provavelmente vão se agravar os conflitos trabalhistas, mas, como diz um velho samba, ninguém tem nada de bom sem sofrer".

Pedro Grendene, presidente da Grendene/Vulcabrás: ``Acho que as medidas em princípio são corretas, mas é um pouco precipitado que o governo tente resolver seus problemas jogando o ônus maior do ajuste na iniciativa privada e nos trabalhadores, enquanto o governo está protegido".

João Elísio Ferraz de Campos, 52, presidente da Fenaseg (Federação Nacional das Seguradoras): ``O Real foi fundamental para equilibrar a economia, mas não sobreviveria por 20 anos sem a desindexação. Esta é a oportunidade de pensar com planejamento".

José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores): ``A desindexação acontece no momento certo. O governo agiu corretamente ao desencadear o processo de forma gradual. Dessa forma tem condições de fazer a sintonia fina durante os próximos meses. Quem ganha com a desindexação é o brasileiro. Vamos poder retomar o velho hábito de negociar, que estava meio fora de moda".

Roberto Barreto Filho, vice-presidente do Banco Econômico: ``O depósito remunerado pela TBF pode ser um bom instrumento de captação de recursos para os bancos na medida em que permite alongar os prazos, com maior taxa de juros quanto mais longo for o prazo da aplicação. Acho que ele foi criado para concorrer com as aplicações em CDB e em fundos de investimentos e não com a poupança".

Eduardo Suplicy (SP), líder do PT no Senado: ``A TBF representa um tabefe para o trabalhador".

Esperidião Amin (PPR-SP), senador: ``A livre negociação proposta pelo governo coloca um aleijado e um atleta na disputa de uma prova de 100 metros rasos".
José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara: ``A tendência do Congresso vai ser manter a muleta para os salários (reposição salarial)".

José Anibal Teixeira, líder do PDT na Câmara: "Não pode continuar existindo um modelo econômico que exclua o trabalhador".

Miro Teixeira, líder do PDT na Câmara: ``Não pode continuar existindo um modelo econômico que exclua o trabalhador".

Aloizio Mercadante, vice-presidente do PT: ``Os assalariados vão pagar a conta apresentada pelo governo. Os salários ficam sem defesa, e os impostos e aplicações continuam com indexadores. O arrocho salarial será usado para tentar impedir a aceleração inflacionária e a desvalorização cambial, que acabará sendo adotada. Os bancos ganham, já que continuam com a taxa de juros elevada".

Paulo César Farias, o PC, empresário e ex-tesoureiro da campanha do ex-presidente Collor (1989): ``É uma coisa de país de Primeiro Mundo. A indexação era o pior mal. O governo tomou uma medida acertada".

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