São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desigualdade entre raças começa na pré-escola

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Crianças negras estão morando nos bairros mais pobres e frequentando as piores escolas com os profissinais menos preparados. São as que menos produzem, as que mais repetem e abandonam os cursos.
Os dados aparecem nos últimos estudos do IBGE -o instituto oficial de estatísticas- e foram confirmados em pesquisa que o Datafolha fez sobre racismo.
Apenas 4% dos negros e 6% dos pardos iniciaram um curso superior. Entre os brancos -que representam 49,6% da população-, 13% fizeram faculdade.
Com base em dados do IBGE, o Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo concluiu que, de cada 100 alunos negros que iniciam os estudos, só 1,5% chega à faculdade.
Entre esses, 30% estão nas escolas públicas do país, onde o ensino é gratuito e de melhor nível. Os outros pagam por escolas onde o diploma não significa acesso ao mercado de trabalho.
A raiz dessa diferença estaria na pré-escola, afirmam as pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas, Fulvia Rosemberg e Regina Pabim Pinto. “Quando se compara crianças com o mesmo nível sócio-econômico, vê-se que as negras começam nas piores creches e escolas”, diz Fúlvia.
As negras começariam a perder a corrida antes mesmo do nascimento, como lembra a demógrafa Elza Berquó. Segundo seus trabalhos, as mulheres negras se casam menos e mais tarde que as pardas e brancas. A viuvez é maior entre elas, e, proporcionalmente, são as que mais tocam famílias sozinhas e passam mais tempo fora de casa.
Seus filhos estão mais sujeitos à mortalidade infantil. “Se a criança negra sobreviver, será a primeira a abandonar a escola pelo trabalho”, diz Regina Pahim.
Algumas voltarão a estudar anos depois, frequentando escolas noturnas e supletivos. Dificilmente conseguirão lugar nos cursos disputados pelo mercado.
Segundo o professor Carlos Hasenbalg, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro, estaria ocorrendo “um descenso social entre os não-brancos”. “Eles não estão conseguindo manter o padrão alcançado por seus pais.”
O empobrecimento está empurrando as famílias negras para as áreas mais deterioradas da cidade, ocorrendo o que os pesquisadores chamam de segregação espacial.
“O saneamento básico nos bairros onde moram os negros é pior do que nas áreas onde vivem brancos da mesma situação econômica”, diz Fúlvia.

Texto Anterior: Folha lança cotação de carros por telefone
Próximo Texto: Analfabetismo é ameaça em Palmares
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.