São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Analfabetismo é ameaça em Palmares

Escola fica a 4 km de ex-quilombo

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM UNIÃO DOS PALMARES

Ver a neta de 7 anos tornar-se uma analfabeta é o maior medo na vida de Maria Carmelita da Silva, 49.
Ela mora em uma casa de taipa (feita de madeira e barro), na Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), local onde o líder negro Zumbi instalou o Quilombo dos Palmares, seu último reduto de resistência à escravidão.
``Se continuarmos morando no mato, Maria Edilene vai ficar igual aos avós, sem saber escrever nem o nome", afirmou. A casa dos Silva fica a 4 km da escola mais próxima, em União dos Palmares.
Maria teve nove filhos, mas só quatro não morreram antes de completar um ano. Dos vivos, uma é prostituta em Maceió (AL), outro trabalha como bóia-fria em plantações de banana, o terceiro está desempregado em União dos Palmares e Moacir (pai de Maria Edilene), 25, é posseiro.
Seu pai, José da Silva, 57, também é posseiro e tem um hectare (10 mil m2) de terra do Quilombo dos Palmares.
A família Silva é uma das 45 que vivem ilegalmente nos 250 hectares do quilombo, que foi tombado pelo governo federal por ter sido considerado patrimônio histórico. A área ocupada equivale a 350 campos de futebol.
Os Silva ainda fazem pó de café socando os grãos com pilão de madeira, não possuem televisão e os seus bens mais modernos são relógios contrabandeados do Paraguai, que compraram na feira. A única coisa que esperam do governo é uma indenização se forem expulsos do quilombo.

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