São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sindicato tem grupo anti-racial

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O sindicalismo brasileiro está começando a assumir sua negritude. Nos últimos três anos, sindicatos ligados à CUT vêm organizando comissões de negros e associações anti-raciais.
Em novembro passado, todas as centrais brasileiras e algumas estrangeiras se reuniram em Salvador para tratar do assunto.
No mês passado, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, 39, raspou a cabeça homenageando os 300 anos da morte de Zumbi e assumindo seu lado negro: ele descende de índios por parte da mãe e de africanos por parte de pai.
Dez anos atrás, Vicentinho se dizia nordestino. ``A gente vai aprendendo", afirma.
Para o movimento negro, a presença de Vicentinho à frente da maior central sindical do país é um grande trunfo. Afinal, no conjunto do operariado, pretos e pardos são mais de 60%. No setor de serviços em geral, eles são mais de 70%.
Na direção dos sindicatos, os brancos ocupam quase todos os postos. ``Há racismo entre os próprios trabalhadores e sindicalistas", diz Neide Aparecida Fonseca, diretora do Sindicato dos Bancários de SP e membro da comissão contra a discriminação racial.
Pesquisas entre trabalhadores mostraram que o negros não se sindicalizam porque não se sentem respaldados nas questões raciais.
A convite dos sindicatos, o Ceert -um centro que estuda as relações e desigualdades no trabalho- passou a dar cursos e treinamentos sobre discriminação e racismo em todo o país. Vicentinho tem sido um aluno sempre atento, diz um professor do curso.
A questão da discriminação vai do trabalho escravo a mecanismos sutis que impedem a promoção do negro nas empresas. Nos serviços de esgotos das cidades, pretos e pardos são maioria. Eles são também as maiores vítimas de acidentes no trabalho.
Segundo Neide, apenas 5% dos 150 mil bancários de São Paulo e Osasco são negros.
A assessoria de imprensa da Febraban -Federação Brasileira de Bancos- informou que desconhece qualquer tipo de restrição na contratação e promoção de funcionários.

Texto Anterior: Desigualdade entre raças começa na pré-escola
Próximo Texto: Empresa prefere mulher negra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.