São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995 |
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'Chefes vêem negro com vassoura na mão'
AURELIANO BIANCARELLI
A conclusão é da psicóloga Maria Aparecida Silva Bento que cita pesquisa realizada pelo Ceert -instituição que estuda relações e desigualdades no trabalho-, o Instituto de Psicologia da USP e o Núcleo de Consciência Negra. Segundo Maria, que trabalhou 12 anos selecionando pessoal, a escolha passa pelo imaginário e pelos estereótipos que profissionais de recursos humanos e suas chefias têm dos negros. Segundo ela, são esses mecanismos e critérios informais -não escritos nem admitidos- que impediriam o acesso e a ascensão de negros no mercado de trabalho. ``A discriminação institucional independe do fato de a chefia ser ou não preconceituosa", afirma. Maria já foi assessora da Secretaria do Trabalho e hoje coordena o Ceert. Na pesquisa citada, foram ouvidos 75 negros -de profissionais não-especializados a pequenos empresários. Segundo ela, todos revelaram ter sofrido algum tipo de discriminação. Na pesquisa feita pelo Datafolha, 52% dos entrevistados negros e mulatos disseram ter sofrido algum tipo de discriminação no trabalho ou tiveram dificuldade para obter emprego por causa da cor. Segundo Maria Aparecida, os negros são excluídos de cargos que exigem certa visibilidade dentro da empresa e quando suas funções requerem reuniões com chefias de outros setores. ``Se o cargo é de comando ou prevê a representação da empresa fora, os negros não têm chance." Segundo a pesquisa do Ceert-USP, a discriminação ocorreu na maioria das vezes no momento de seleção ou promoção. ``Se você é o selecionador ou o chefe, vai preferir não correr riscos. Optará sempre pelo estereótipo.", diz Maria. Segundo ela, a discriminação aparece camuflada nas fases subjetivas do processo de contratação, particularmente na entrevista. Para diminuir essa discriminação institucional, o Ceert sugere que as empresas explicitem os critérios de seleção, informem os requisitos para o cargo e divulguem a lista dos aprovados em cada fase. Maria Aparecida, que é negra, diz que já foi discriminada em várias empresas. Numa estatal onde trabalhou, Maria ocupou por dois anos a chefia da área de seleção e recrutamento, mas nunca assumiu o posto nem recebeu o salário correspondente. ``Há um patamar onde o negro não avança mais", diz. (AB) CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades Tel. (011) 864-5008 Texto Anterior: Corte derruba privilégio nos EUA Próximo Texto: Associação nega preconceito Índice |
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