São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Americano sofre discriminação explícita

GUSTAVO VENTURI e MAURO FRANCISCO PAULINO

GUSTAVO VENTURI; MAURO FRANCISCO PAULINO
DO DATAFOLHA

A comparação da pesquisa do Datafolha sobre racismo com levantamentos feitos por institutos dos EUA mostra que brasileiros e norte-americanos diferem na percepção da questão racial como consequência de práticas sociais de discriminação diferentes.
Como atesta pesquisa Gallup/Newsweek de abril de 91, 37% dos ``american blacks" afirmam já ter sofrido discriminação ao procurarem emprego e 36% ao pleitearem uma promoção.
Na média ponderada dos negros e mulatos brasileiros, essas taxas atingem 13% e 10% respectivamente, conforme apurou pesquisa do Datafolha. A diferença também aparece quando se trata de alugar ou comprar um imóvel (leia quadro ao lado).
À primeira vista, esses dados sugerem que nos EUA há mais discriminação contra os negros. Mas uma pesquisa do instituto Yankelovich Clancy Schuman não sustenta essa conclusão.
Colocados diante de duas alternativas, 52% dos negros americanos afirmaram que o principal problema enfrentado por eles é a própria incapacidade de aproveitar as oportunidades, enquanto uma parcela menor (41%) apontou a discriminação por parte dos brancos.
Na pesquisa Datafolha, 59% dos entrevistados negros e mulatos apontaram a discriminação como principal problema, contra apenas 26% que atribuíram a suas próprias limitações.
Na comparação dos indicadores das condições de vida pode estar a chave para esse aparente paradoxo.
Por exemplo, enquanto nos EUA mantém-se a proporção brancos/negros no acesso ao 3º grau, entre os 9% dos brasileiros que chegaram ao ensino superior apenas 6% são negros e 23% mulatos. No conjunto da população adulta, eles constituem 43%.
Assim, é plausível supor, de um lado, que os negros brasileiros enfrentam poucas situações explícitas de discriminação porque desde logo deixam de disputar espaços sociais com os brancos.
Pode-se concluir que a discriminação no Brasil pouco aparece porque é estrutural, os negros são marginalizados desde o início em sua formação educacional e profissional.
Mas, ao contrário do que se poderia supor, essa situação objetiva de exclusão social não impede que a maioria da população brasileira de origem negra tenha consciência do preconceito.

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