São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Cinemateca abre ciclo sobre jornalismo

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 03/07/95
Mostra: Jornalismo e Cinema
Hoje: Opinião Pública (15h), Acossado (17h), Carlitos Repórter e Última Hora (19h), Correspondente Estrangeiro (21h)
Onde: Sala Cinemateca (rua Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, zona Oeste, tel. 011/881-6542)

O documentário ``Opinião Pública" (1967), primeiro filme de Arnaldo Jabor, abre hoje a mostra ``Jornalismo e Cinema", promovida pela Folha em conjunto com a Cinemateca Brasileira e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O ciclo vai até o próximo dia 14.
``Acossado" (1959), de Jean-Luc Godard, filme que passa em seguida, é um marco da chamada Nouvelle Vague, movimento de renovação do cinema francês que empreendeu uma releitura de gêneros como o policial, o filme de amor e a ficção científica.
Com roteiro de François Truffaut, ``Acossado" narra de maneira inventiva e fragmentária o envolvimento fugaz, em Paris, entre um pequeno marginal (Jean-Paul Belmondo) e uma jovem americana que vende nas ruas o jornal ``Herald Tribune" (Jean Seberg).
O filme inédito do dia é o clássico ``Última Hora" (1931), de Lewis Milestone, que será exibido em versão original, sem legendas, e acompanhado do curta ``Carlitos Repórter" (1914), de Chaplin.
``Última Hora" é a primeira das três versões que Hollywood fez da peça teatral ``The Front Page" (A Primeira Página), de Ben Hecht e Charles MacArthur.
As outras duas seriam ``His Girl Friday" (1940), de Howard Hawks, e ``A Primeira Página" (1974), de Billy Wilder.
Todas as três são comédias arrasadoras. A versão de Milestone, com seus diálogos rápidos e mordazes, é a que preserva mais a estrutura teatral, o que não significa que seja pouco movimentada.
A ação se concentra praticamente num só ambiente -a sala de imprensa da corte criminal de um ``reino imaginário"- e num só dia -a véspera do enforcamento de um prisioneiro condenado.
Um tarimbado repórter (Pat O'Brien), que vai largar a profissão para se casar no dia seguinte, passa no local só para se despedir dos amigos, mas acaba envolvido na cobertura jornalística da tentativa de fuga do condenado.
Boa parte do humor do filme vem da hesitação do repórter entre o amor e a profissão, o desejo de abandonar o jornalismo e a ânsia de conseguir um grande ``furo". Essa vulnerabilidade é explorada de modo maquiavélico por seu editor (Adolphe Menjou).
Há uma velada sugestão de homossexualismo nessa relação entre o repórter e seu chefe, e também na misoginia explícita do ambiente da sala de imprensa.
Uma das gags mais memoráveis é a do psiquiatra que faz a avaliação do estado mental do condenado. Na ``reconstituição do crime", o prisioneiro recebe inadvertidamente um revólver carregado e dispara contra o médico. Antes de cair duro, este balbucia seu diagnóstico: ``Dementia...precox".
Entre os filmes de amanhã do ciclo, há outro clássico inédito em versão original: ``A Luz é para Todos" (Gentleman's Agreement, 1947), de Elia Kazan, vencedor dos Oscar de filme, direção e atriz coadjuvante (Celeste Holm).
Nesse drama soberbamente dirigido, Gregory Peck é um escritor encarregado por uma revista de Nova York de fazer uma grande reportagem sobre anti-semitismo.
Para conhecer o assunto ``por dentro", ele resolve se passar por judeu, enfrentando o preconceito em variadas situações. O problema se agrava quando ele encontra esse preconceito na família da noiva.
Kazan, que alguns anos depois delataria seus ex-companheiros comunistas ao Comitê de Atividades Anti-Americanas, antecipa os temas da correção política hoje em voga e realiza um dos grandes filmes anti-racistas da história.

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