São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Bonecas viram item cult no imaginário pop

SUZY CAPÓ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A boneca vira parte da iconografia pop. Diretores, fotógrafos, escultores e outros artistas dão a bonecas e bonecos diferentes conotações.
Algumas das mais importantes imagens dessa tendência estão no trabalho da fotógrafa norte-americana Cindy Sherman, 41, na exposição aberta na última terça no Museu de Arte Moderna de SP. Sherman vem utilizando bonecas e manequins para compor formas. Em uma dessas obras, Sherman fotografou uma espécie de marionete feminino de costas e de quatro, como se prestes a ser violentada. Contextualizada de forma agressiva, a boneca remete, para a crítica de arte Aracy Amaral, ``à problemática da mulher".
``Seu trabalho se inscreve no imaginário dos anos 90, dentro da violência dos programas de TV e do cinema de diretores como Peter Greenaway", diz Amaral. Algumas das representações mais expressivas de uso de bonecas no Brasil aparecem na exposição ``Infância Perversa", que esteve até junho no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e que em agosto chega a Salvador. Na mostra, 35 artistas utilizam ``elementos formais comumente denominados de infantis, atuando de maneira `perversa"', como observa no texto do catálogo seu organizador, Marcos Lontra. Usam imagens de bonecos e bonecas os trabalhos das cariocas Cristina Salgado, 38, da série ``Meninas", de 93, em ferro e aço, e de Marcia X, 36. Na instalação ``Os Kaminhas Sutrinhas" (95), bonequinhos enfileirados reproduzem posições sexuais.
Na opinião da artista plástica Lia Mena Barreto, 36, presente em ``Infância Perversa", ``trabalhar com bonecas é como ressuscitar um mundo que já está morto, coisas que estão empoeiradas e fragmentadas mas que ficaram no inconsciente".
As bonecas utilizadas por Mena Barreto foram compradas em série e manipuladas de formas diversas: amarradas uma nas outras ou acopladas a outros brinquedos.
``As bonecas são como uma capa das pessoas", diz a artista plástica Keila Alaver, 24. Há seis meses desenvolve trabalhos que misturam imagens de corpos de bonecas e reproduções em pintura ou fotografia, de rostos familiares. Os quatro trabalhos sobre fórmica -representando a própria artista e membros de sua família-, foram expostas na última semana no Espaço Columbia, em São Paulo.
A artista plástica Roberta Fortunato, 30, busca resgatar em seu trabalho ``o mecanismo de bonecas e outros brinquedos". A ênfase está no movimento do objeto. Através da confecção de esculturas que lembram brinquedinhos mecânicos para crianças, Fortunato cria situações para que o público pare, olhe e manipule a obra de arte. O fotógrafo italiano Roberto Gamba, 45, usa bonecas seduzido pela possibilidade de capturar ``os aspectos mágicos, inusitados e surreais do mundo", como explica em seu catálogo. A série de barbies em situações sadomasoquistas foi publicada em 93 pela revista ``Photographies Magazine". As barbies apareceram também na chamada para o último Dia dos Namorados da MTV Brasil. O gerente de criação Mario Moreira, 29, diz que ``trabalhar com o inusitado é 100% MTV. Por que não a boneca?".
No mundo da música, portanto, também tem. Courtney Love, viúva de Kurt Cobain e líder da banda Hole, fez o hino das bonecas em ``Doll Parts" (em que entoa ``sou partes de boneca; braços de boneca; pernas de boneca). O clipe, claro, está repleto de imagens de bonecas, bem como os dos grupos Babes in Toyland (``Star 69") e Veruka Salt (``Seether").
A diretora de programação musical da MTV, Yone Sassa, 33, chama atenção para o fato de que são novas bandas de rock formadas por mulheres. ``Como a boneca está inserida dentro do universo feminino", é natural que ela apareça com mais frequência neste hype de grupos de meninas.

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