São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Gaúchos são os que mais rejeitam o real

No Rio Grande do Sul, 27% consideram o plano ruim

LÉO GERCHMANN
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O historiador gaúcho Voltaire Schilling afirma que fatores sociais, políticos, históricos e econômicos entraram em “comunhão” e colocaram o Rio Grande do Sul como o Estado em que o Plano Real enfrenta maior resistência .
Essa resistência foi detectada pela pesquisa Datafolha. Segundo a pesquisa, 27% dos gaúchos consideram o plano ruim para o país, 67% temem o aumento do desemprego e 49% acham que o poder aquisitivo cai por conta do plano.
Schilling diz não ter ficado surpreso com a rejeição. Segundo ele, se dependesse do Rio Grande do Sul, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria sido eleito presidente da República.
Dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) mostram que Lula obteve 33,4% dos votos no Rio Grande do Sul, contra os 29,5% do candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso.
“Os gaúchos têm dois sentimentos fortes: o da marginalidade em relação ao centro do país e o nacionalismo, resultante do fato de o Estado ser fronteira com Uruguai e Argentina”, afirma.
A perda de espaço no “poder central”, segundo Schilling, incentiva os “delírios separatistas”.
O separatismo é um movimento que prega a separação do Rio Grande do Sul do Brasil, com a criação de um novo país.
O historiador lembra que os “principais líderes nacionalistas” da história brasileira, como os ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, eram gaúchos.
“O real é vinculado com a internacionalização da economia. Isso nunca foi bem aceito pelos gaúchos”, diz.
Depois do Plano Real e da abertura da economia às exportações, produtos gaúchos estão perdendo terreno para similares estrangeiros.
São os casos do vinho e do calçado, diz o coordenador do Conselho de Economia da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul), Nestor Perini.
“Desde 91, não havia déficit na balança comercial gaúcha. Em dezembro de 94, o déficit chegou aos US$ 215 milhões”, diz.
Perini afirma que os números da economia gaúcha bastam para evitar que o Estado entre na euforia do Real. “O desemprego é um custo muito alto para o Estado, causado pelo déficit”, diz.
Nos primeiros quatro meses de 95, o déficit atinge US$ 150 milhões. A previsão da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul) é chegar a US$ 450 milhões até dezembro.
No setor calçadista, 42 mil trabalhadores estão desempregados.

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