São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Reformas definem o ``grupo do poder"

Motta, Malan, Serra e Luís Eduardo são as estrelas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Seis meses de governo serviram para revelar um novo grupo de poder em Brasília. Contaram para definir esses nomes as reformas pretendidas pelo governo e a necessidade de manter sob controle as contas públicas.
As vitórias do governo no Congresso nas sucessivas votações da reforma reforçaram a posição de ministros e parlamentares aliados a Fernando Henrique Cardoso, isolando a oposição.
Ganharam relevância no período especialmente os que se dedicaram a consolidar a base política de apoio a FHC.
Dois nomes se destacam no governo. O primeiro é Sérgio Motta, das Comunicações. Amigo pessoal e antigo assessor de FHC, ele se firmou como principal negociador do governo. É a ligação com o Congresso.
Embora tenha tropeçado algumas vezes, sobretudo quando não controlou os impulsos de falar o que pensava, chega ao fim do semestre gozando do prestígio que tinha no início: é uma estrela de primeira grandeza.
A energia com que defende o programa de reformas de FHC deixou para trás frases consideradas infelizes pelo próprio presidente, como aquela dita em uma reunião com a bancada do PMDB sobre a ineficiência do Programa Comunidade Solidária: ``Essa masturbação sociológica me irrita."
Com perfil completamente diferente do de Motta, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, se fortaleceu pela atuação técnica.
Malan tem tido apoio de FHC nas disputas com outro candidato a ``superministro": José Serra, do Planejamento. Os dois divergiram claramente sobre vários pontos da política econômica.
Serra tem se destacado na firmeza com que defende os cortes nos gastos públicos, que FHC considera essenciais para garantir o Plano Real, mas enfrenta resistências no governo pela tentativa de ``invadir" a área de outros ministros.
Congresso
No Congresso, o personagem político que mais cresceu foi o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). Ele foi o principal aliado do governo na votação das emendas constitucionais.
Luís Eduardo garantiu o quórum para aprovação de emendas que quebravam o monopólio estatal do petróleo, gás canalizado e navegação de cabotagem.
A aprovação das emendas também ajudou a projetar os líderes dos principais partidos que apóiam o governo.
Inocêncio Oliveira (PFL-PE) é o mais forte deles. O PFL tem a maior bancada na Câmara e é o partido mais fiel ao governo, chegando à unanimidade em algumas votações.
Os líderes do PSDB, José Aníbal (SP), e do PMDB, Michel Temer (SP), tiveram mais dificuldades para coordenar suas bancadas, mas acabaram contornando as dissidências.
Com isso, ganharam poder de negociação e deixaram obscurecidos os líderes do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e no Congresso, Germano Rigotto (PMDB-RS).
Ruralistas
A única força que conseguiu derrotar o governo no Congresso foi a bancada ruralista. Suprapartidária, a frente tem o apoio de 134 deputados, de um total de 513, e de mais de 30 senadores, de um grupo de 81.
Com essa força e ameaçando não votar a reforma constitucional, os ruralistas conseguiram impor ao governo um acordo de renegociação das dívidas do setor rural que custou R$ 2,8 bilhões aos cofres públicos.
Na sexta-feira, FHC encontrou-se com um grupo de lideranças do setor agrícola em Brasília não diretamente vinculadas à bancada ruralista. O governo tenta desarmar o gatilho do grupo, criando uma alternativa. A tarefa é difícil.
Os ruralistas têm os votos de que o governo precisa para dar sustentação às reformas realmente espinhosas que estão por vir: a tributária e a da Previdência.

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